Sol da Caparica com 15 concertos originais e uma homenagem a Cesária

A uma semana do seu início, o festival Sol da Caparica já tem o programa completo, que inclui 15 espectáculos pensados especialmente para aquele espaço e uma homenagem a Cesária Évora.

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Festival Sol da Caparica em 2017 DR

O Sol da Caparica não mudou de conceito, mas este ano desafiou artistas a criarem espectáculos propositadamente para o festival e teve êxito nesse desafio, como explica ao PÚBLICO António Miguel Guimarães, o seu director artístico: “O conceito está lá, vai evoluindo, mas o fundamental é conhecido: estamos a trabalhar a música portuguesa e dos artistas de língua oficial portuguesa, de África ao Brasil. Mas o salto maior este ano foi o desafio lançado à maior parte dos artistas de construírem espectáculos especialmente para o festival, com a hipótese de trazerem convidados ou bandas maiores. E como retorno temos 15 artistas a fazerem espectáculos diferenciados, o que é óptimo.” Esta foi, diz, a primeira aposta ganha. A segunda “foi a decisão de homenagearmos a Cesária Évora, com um bloco muito grande de artistas cabo-verdianos em palco. E ela é cada vez mais uma artista a redescobrir, porque há toda uma geração que não faz ideia de quem ela é. E é bem provável que se juntem ainda uns quantos músicos portugueses a esta homenagem [dia 18].”

Há ainda “apostas mais difíceis”, mas feitas com empenho, como as projectadas para o anfiteatro inaugurado em 2017. “Aí vamos ter uma linha especial de espectáculos, com o Alex Cortez, que com o Poetry Ensemble aceitou musicar poemas desta selecção que a Valentim de Carvalho está agora a reeditar em CD [David-Mourão Ferreira, Alexandre O’Neill, Mário Cesariny e António Gedeão]. E depois, porque a palavra tem peso, por causa dessa ideia do ritmo e da força da palavra, decidi programar uma série de três espectáculos de percussão: o Tim Tim Por Tim Tum, com quatro bateristas; o Pedro Carneiro em trio (vibrafone, marimbas e bateria); e o Drumming, com peças inspiradas no rock: Frank Zappa, John Cale, grandes nomes do rock mundial.”

Estreias e revelações

Programado, mais uma vez, para durar quatro dias no Parque Urbano da Costa da Caparica, de 16 a 19 de Agosto, o festival tem, como sempre, várias estreias. Só no sábado, dia da homenagem a Cesária, há pelo menos três: João Gil a solo (já esteve antes no festival, mas com outras formações), Via e Tiago Nacarato. E o que trazem? João Gil, por exemplo, imaginou um espectáculo baseado no disco João Gil Por…: “É uma viagem pelo meu cancioneiro através do cruzamento de várias gerações. Terei a companhia da Ana Bacalhau, da Celina da Piedade, do Tatanka, do Carlão e talvez de uma surpresa especial que ainda não está confirmada. Como sou um compositor que ao longo dos anos fez músicas para várias vozes, este é um pretexto para mostrar que as canções estão lá sempre, independentemente de quem as canta; e que as pessoas é que as fazem.”

Via, jovem cantora e compositora, nome artístico de Elvira, não tem ainda nenhum disco em formato físico (só para o ano), embora já tenha 3 singles nas plataformas digitais. Neste festival, como diz ao PÚBLICO, apresenta-se em formato quarteto: “Espero que as minhas músicas sejam bem recebidas ou que pelo menos as pessoas apreciem o tipo de música que estou a preparar para apresentar a um público que ainda não me conhece.” Que música? “É uma mistura de pop português com algumas sonoridades não tão pop (eu estudo jazz). Numa música ou noutra pode haver umas harmonias um bocadinho diferentes. Vou acompanhar-me em ukelele e guitarra.”

Por fim, Tiago Nacarato: “Venho com uma orquestra de samba, que começou por ser uma roda de samba e depois teve um upgrade de arranjos de sopros, numa fusão entre o samba e o jazz. Vamos buscar temas de raiz, clássicos, do Noel Rosa, do Wilson Simonal, e trazê-los com uma roupagem jazzística. É uma revisitação do cancioneiro do Brasil com as nossas influências.” Além dele, há outras vozes no grupo. “Como Angelo B, que dá uma roupagem mais hip hop.”

Um alerta pelos mares

Sendo, desde o início, um festival ligado ao mar, o Sol da Caparica quis este ano reforçar essa imagem e sobretudo, como diz António Miguel Guimarães, dar peso a um alerta urgente: “Há um grande investimento na imagem, que continua, ligando aquilo tudo do ponto de vista plástico e com uma iluminação muito especial; e há uma grande atenção à temática do mar, que cruza tudo, porque a situação dos mares está um desastre, é só lixo, e as pessoas têm de pensar que estamos a criar um problema gigante que já chega à cadeia alimentar, porque os peixes se alimentam disso. Temos de apertar com os políticos, para apressar a resolução de um problema que é colectivo.”

A procura, este ano, ainda segundo o director artístico do festival, tem estado a um bom nível. “Estamos a vender mais entradas do que nos anos anteriores. O objectivo era pelo menos manter a quantidade e a qualidade do que temos feito. Se assim for, é porque fizemos um bom trabalho.”

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