Produtores de leite fazem manifestação junto à Lactogal no Porto esta quinta-feira

"Fartos da falta de estratégia da Lactogal, os produtores de leite exigem mudanças na liderança da empresa, o aumento urgente do preço do leite ao produtor e a redução dos salários milionários dos administradores", segundo a justificação da Associação dos Produtores de Leite de Portugal

Foto
hcs helena colaco salazar

A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) anunciou hoje que pretende quinta-feira, numa manifestação marcada para junto da Lactogal, no Porto, exigir a demissão dos atuais administradores da empresa em nome de "melhores estratégias para o sector".

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) anunciou hoje que pretende quinta-feira, numa manifestação marcada para junto da Lactogal, no Porto, exigir a demissão dos atuais administradores da empresa em nome de "melhores estratégias para o sector".

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Aprolep, Jorge Oliveira, afirmou que "há uma falta de estratégia na actual direcção da Lactogal" no que diz respeito ao escoamento do leite, o que tem causado, afirmou o responsável, "sérios constrangimentos e dificuldades financeiras para os produtores".

Confrontada com estas afirmações, a Lactogal referiu, em resposta escrita enviada à Lusa, que "o preço que paga pelo leite é superior ao que paga o mercado em Portugal e em Espanha, sendo, durante o corrente ano, superior em 7% face ao período homólogo do ano passado".

Mas a Aprolep vinca que "não tem havido um rumo nem uma estratégia para o escoamento do leite" e critica a decisão de reduzir o preço do leite em um cêntimo por litro, avançando que além da manifestação de quinta-feira "estão pensadas outras acções que visam a defesa do sector e a denuncia das más condições atuais dos produtores".

"Com esta descida, há ainda mais dificuldades. Muitas explorações podem vir a fechar. Agora, o objectivo é que nos ouçam. Não podemos baixar os braços. E a nossa intenção é que os administradores se demitam. Já não têm capacidade. Foram bons no seu tempo e agora já não estão capazes de lidar com os desafios actuais", disse Jorge Oliveira.

O responsável da Aprolep apontou ainda que têm sido feitos "pedidos de ajuda ao Governo", lamentando que este, disse, "sejam em vão".

Já no comunicado que acompanha o anúncio da manifestação remetido às redacções, a associação avança que a iniciativa vai decorrer quinta-feira entre as 12:00 e as 14:00 hora junto à sede da Lactogal no Porto.

A manifestação é convocada por várias associações e cooperativas agrícolas, tendo como objectivo "demonstrar a revolta dos produtores face a mais uma descida do preço do leite depois de a Lactogal em 2017, ano difícil para a produção, ter arrecadado cerca de 44 milhões de euros de lucro"

"Fartos da falta de estratégia da Lactogal, os produtores de leite exigem mudanças na liderança da empresa, o aumento urgente do preço do leite ao produtor e a redução dos salários milionários dos administradores", lê-se na nota.

Por sua vez, a Lactogal, na sua resposta à Lusa, explicou que "paga o leite diretamente aos seus fornecedores cooperativas e uniões de cooperativas, não lhe competindo definir os preços que estas entidades decidem pagar aos produtores" e descreveu que "por força do seu pacto social, absorve todo o leite que as estruturas cooperativas que participam nos órgãos sociais da empresa e do grupo lhe entregam".

"Por esta via aflui à Lactogal uma fatia muito expressiva do leite produzido em Portugal, tendo, em 2017, a empresa adquirido 55% da totalidade da produção de leite português, garantindo o escoamento da totalidade das produções leiteiras das explorações, cuja recolha é realizada pelas cooperativas suas accionistas", descreve a empresa.

A Lactogal aponta que "os tempos estão particularmente desafiadores para o sector lácteo", mencionando que "no ano de 2017 as estatísticas divulgadas relativas às entregas de leite de vaca efectuadas à indústria para transformação apontavam para um crescimento na União Europeia de cerca de 1%".

"Em Portugal, o acréscimo foi de 0,1% e a produção na Região Autónoma dos Açores atingiu o volume mais elevado de sempre", refere a resposta, acrescentando que "a verdade é que, apesar de se conhecerem as condicionantes do mercado desde 2015, a oferta de leite não parou de aumentar e o mercado mundial lácteo está saturado".

"Esta realidade confronta a empresa com a dificuldade em conciliar o escoamento integral do leite recolhido relativamente às oportunidades proporcionadas pelo mercado, pelo que, o excedente estrutural da produção é incompatível com a valorização dessa mesma produção", completa a Lactogal.