Chamas chegaram às portas de Monchique e obrigaram a retirar pessoas

Protecção Civil deslocou à noite a população para o centro da vila para garantir a sua segurança. Número de operacionais no terreno foi reforçado. Termómetros começam a descer nesta segunda-feira.

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Incêndio está activo há três dias LUSA/FILIPE FARINHA

Com as chamas à porta da vila de Monchique, onde vivem cerca de 2300 pessoas, o comandante operacional da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), Duarte Costa, garantiu a meio da noite deste domingo que a população se encontra em segurança. “As pessoas estão a ser deslocadas para um local no centro da vila, onde estão em segurança”, e a “maior parte da vila está salvaguardada”, garantiu.

Numa conferência de imprensa realizada às 22h30, e que contou com a presença do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, o responsável da ANPC indicou que os 800 operacionais que já estão no terreno iam ser reforçados por vários outros contingentes de bombeiros e destacamentos das Forças Armadas e da GNR com o objectivo de tentar “conter finalmente o incêndio durante a noite”.

Têm a favor, acrescentou, o facto de se esperar uma subida da humidade relativa para 50% e uma diminuição da temperatura do ar. Duarte Costa informou também que a “frente mais activa” do incêndio chegou à bacia de uma barragem e que por isso “existem boas condições para que pare aí”.

O responsável da ANPC admitiu que “algumas casas, na orla exterior da vila, podem ter sido afectadas” e indicou que as principais prioridades da Protecção Civil continuam a ser “a salvaguarda das vidas humanas, a salvaguarda se possível dos bens materiais e o controlo do incêndio”.

Duarte Costa disse ainda que o incêndio na serra de Monchique, que começou na sexta-feira, tem lavrado “fundamentalmente numa zona de muito difícil acesso e onde os combustíveis vegetais estão ao mais alto nível”.

Marcelo não vai a Monchique

De férias nas zonas fustigadas pelos grandes incêndios do ano passado, o Presidente da República está a acompanhar de perto a evolução dos incêndios no país, em especial na zona de Monchique, mas não pondera deslocar-se ao Algarve, como fez com Pedrógão Grande em 2017.

O PÚBLICO sabe que o Presidente da República tem estado em contacto telefónico permanente com o ministro da Administração Interna e o presidente da Câmara de Monchique, de quem foi obtendo informações no sentido de que o fogo já não ameaçava a vila e que se aguardava que as temperaturas baixassem esta noite, o que permitiria que as viaturas entrassem no terreno e iniciassem o combate terrestre.

Marcelo Rebelo de Sousa segue, desta forma, a orientação do Governo de não dramatizar a situação aparecendo no local, deixando o palco aos operacionais. Hoje continua o seu roteiro das praias fluviais da zona centro: vai a Góis, Lousã e Coimbra.

Em 2003 arderam 32 mil hectares de floresta em Monchique e já este ano o concelho foi apontado como o primeiro no top 20 de risco de incêndio, num estudo elaborado e divulgado há duas semanas. Foi esta uma das razões que, em Junho, levaram até ali o primeiro-ministro, António Costa, para comprovar o que estava a ser feito na região para prevenir novos incêndios.

“Vimos em primeiro lugar o trabalho extraordinário que o município está a fazer em conjunto com os proprietários para a construção das faixas de protecção à volta dos aglomerados, para construir as faixas de gestão dos combustíveis”, disse então.

Ao princípio da tarde desta segunda-feira, o comandante da Protecção Civil de Faro, Vaz Pinto, insistiu que o incêndio na serra de Monchique é de “grande perigosidade”. Por essa altura, acrescentou, tinham já sido retiradas mais de uma centena de pessoas: 79 no concelho de Monchique e 31 no vizinho concelho de Odemira.

Mais de 600 incêndios

Segundo o comandante operacional da ANPC, desde o dia 28 de Julho deflagraram 620 incêndios rurais, que foram combatidos por 16 mil operacionais. Só neste domingo, acrescentou, “houve 113 ignições”. À noite só continuavam activos dois incêndios: o de Monchique e outro em Marvão, distrito de Portalegre.

A ANPC decidiu, entretanto, prolongar o estado de alerta especial devido ao calor e ao risco de incêndio, mantendo-o no nível vermelho (perigo extremo) até às 23h59 desta segunda-feira nos distritos de Beja, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém, Setúbal e Viseu. A primeira previsão apontava para que este estado de alerta fosse levantado depois da meia-noite desta segunda-feira.

A Protecção Civil frisou, de novo, que “a rapidez e a violência de propagação de incêndios que ocorrem com este tipo de condições meteorológicas fazem com que constituam uma ameaça para as pessoas e os seus bens, face ao modo extremo com que se podem desenrolar”. E apelou às pessoas que se encontram nas zonas de incêndios para só saírem “do local onde se encontrem em condições de absoluta segurança”.

Jovens em estado grave

Foi o que não sucedeu com os seis jovens, quatro rapazes e duas raparigas, entre os 20 e os 25 anos, que ao fugirem da casa onde se encontravam a passar férias, num monte perto de Estremoz, foram apanhados pelas chamas no sábado.

As duas raparigas continuavam hoje em “estado grave e reservado” nas unidades de queimados dos hospitais de S. José e de Santa Maria, em Lisboa, segundo fontes hospitalares, para onde foram transportadas de helicóptero.

Quanto aos quatro rapazes, que foram inicialmente assistidos em Évora, um teve alta ainda hoje, outro foi para a unidade de queimados do Hospital de Coimbra e os outros dois foram transferidos para o serviço de cirurgia plástica Hospital de S. José.

O monte em que se encontravam ficou intacto. Os jovens começaram por fugir em dois carros, que depois abandonaram quando se viram rodeados pelas chamas. As viaturas ficaram totalmente destruídas. Segundo a GNR, acabaram por ser socorridos por um vizinho, que os transportou para o Centro de Saúde de Estremoz.

Em declarações à SIC, um dos responsáveis dos Bombeiros Voluntários de Estremoz indicou que só souberam do sucedido a posteriori. “Infelizmente não tivemos oportunidade de ajudar em nada”, lamentou.

Segundo o mesmo responsável, o incêndio que deflagrou na zona de São Bento do Cortiço, no concelho de Estremoz, teve “projecções monstruosas” e propagou-se com “uma velocidade estonteante”.

A partir desta segunda-feira espera-se que a temperatura máxima do ar registe uma descida, que será mais pronunciada na terça-feira no litoral oeste e nas regiões do interior. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indicou também que a temperatura mínima do ar também irá descer, em especial hoje, com valores abaixo dos 20 graus na generalidade do território.

Às 3h da madrugada deste domingo, os termómetros continuavam acima dos 30ºC na região de Lisboa, que no dia anterior bateu o seu recorde de temperatura desde que existem registos, tendo chegado aos 44 graus. O IPMA indicou entretanto que sábado foi o dia mais quente dos últimos 18 anos em Portugal continental, tendo registado um valor da temperatura média de 32,4ºC. Os valores médios da temperatura máxima (41,6ºC) e da temperatura mínima (23,2ºC) foram também os mais altos dos últimos 18 anos. com Leonete Botelho

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