Na Vogue, Beyoncé escreve a sua história e revela ser descendente de dono de escravos

A cantora escreve na primeira pessoa sobre a sua ascendência, o seu corpo e a sua família, entre outros temas, para a edição de Setembro da revista norte-americana.

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REUTERS/Carlo Allegri

Pela quarta vez, Beyoncé figura na capa da Vogue norte-americana. Em vez de limitar-se a posar para a câmara e sentar-se para uma entrevista, foi a cantora quem tomou o controlo criativo de toda a produção e escreveu na primeira pessoa sobre alguns dos temas mais relevantes para si, desde o peso representativo das diferentes etnias nos media e na sociedade à pressão sobre a imagem corporal depois da maternidade. Pelo caminho, a cantora falou também da sua ascendência e revelou que descende de um dono de escravos que casou com uma escrava.

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Pela quarta vez, Beyoncé figura na capa da Vogue norte-americana. Em vez de limitar-se a posar para a câmara e sentar-se para uma entrevista, foi a cantora quem tomou o controlo criativo de toda a produção e escreveu na primeira pessoa sobre alguns dos temas mais relevantes para si, desde o peso representativo das diferentes etnias nos media e na sociedade à pressão sobre a imagem corporal depois da maternidade. Pelo caminho, a cantora falou também da sua ascendência e revelou que descende de um dono de escravos que casou com uma escrava.

Nesta edição e pelo que defende, Beyoncé decidiu que seria Tyler Mitchell a fotografá-la. O jovem de 23 anos tornou-se assim no primeiro negro a fazer uma capa da Vogue em 126 anos da história da revista. Aliás, o perfil de Mitchell está longe daquele que a revista costuma escolher para as produções de capa, optando normalmente por nomes já consagrados da indústria como Patrick Demarchelier, Annie Leibovitz ou Steven Meisel.

“Há tantas barreiras culturais e sociais que eu gosto de fazer o que posso para equilibrar o terreno, para apresentar um ponto de vista diferente para pessoas que sentem que a sua voz não é importante”, justifica a cantora. São barreiras que a própria já teve de quebrar. Aos 21 anos, lembra, diziam-lhe que dificilmente apareceria em capas de revista “porque as pessoas negras não vendem”. Mais de uma década depois, toma controlo da edição mais importante do ano – que já foi inclusive tema de um documentário, The September Issue –, mas lembra que ainda há muito caminho a percorrer em relação à diversidade.

“Até haver um mosaico de perspectivas vindas de diferentes etnias atrás da lente, vamos continuar a ter uma abordagem estreita daquilo que o mundo realmente é”, comenta. “Se as pessoas em posições de poder continuarem a contratar aquelas que são parecidas com elas, tudo soará ao mesmo, vêm dos mesmos bairros onde cresceram e nunca terão uma compreensão maior de experiências diferentes das suas.”

A cantora de 36 anos revela que recentemente descobriu ser “descendente de um dono de escravos que se apaixonou e casou com uma escrava”. “Tive de processar essa descoberta ao longo do tempo”, desabafa. Conta ainda que vem “de uma linhagem de relações homem-mulher mal sucedidas, de abuso de poder e desconfiança”. Só quando se apercebeu disso e o viu “claramente” é que pode resolver os conflitos na sua própria relação, revela, fazendo assim referência à traição do marido – que, depois de meses de rumores, este confirmou, em entrevista ao New York Times. Daí nasceram dois álbuns introspectivos: Lemonade, de Beyoncé, e 4:44, de Jay-Z. E o casal dá mostras de se ter tornado mais forte, tendo recentemente gravado em conjunto.

Beyoncé aproveitou ainda para escrever sobre a maternidade e, mais concretamente, o peso imposto às mulheres, em relação ao corpo pós-parto. Da primeira vez, “coloquei pressão sobre mim mesma para perder peso, depois de a bebé nascer, em três meses, e marquei uma pequena digressão para assegurar que o fazia. Olhando para trás, foi uma loucura”, reconhece.

Da segunda gravidez – dos gémeos Rumi and Sir –, conta, “abordei as coisas de forma muito diferente”. Depois de um mês de cama, foi submetida uma cesariana de urgência. “Precisava de tempo para me curar. Durante a minha recuperação, amei e cuidei de mim própria e aceitei ser mais curvilínea. Aceitei o que o meu corpo queria ser. Depois de seis meses comecei a preparar-me para Coachella.”

Para a produção da edição de Setembro, Beyoncé quis usar pouca maquilhagem e deixou de lado as extensões. “Acho que é importante, para mulheres e homens, verem e apreciarem a beleza dos seus corpos naturais”, declara.