"Até 2020, as unidades do SNS têm que estar livres de fumo de tabaco"

Secretário de Estado Adjunto da Saúde diz que campanha dirigida a mulheres jovens que desencadeou grande polémica vai voltar a ser posta no ar. “Foi a campanha [antitabágica] mais vista de sempre no país”, afirma Fernando Araújo.

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Nuno Ferreira Santos

Há abertura para as instituições de saúde escolherem as fórmulas mais indicadas aos seus casos para criarem zonas para fumadores no exterior, até porque "são muito diferentes do ponto de vista físico", explica o secretário de Estado Fernando Araújo.

Em que moldes e onde vão funcionar os espaços para fumadores no exterior dos hospitais e outras unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS)?

A ideia é reduzir a exposição ambiental ao fumo de tabaco, tornar as unidades de saúde espaços promotores de saúde. É complicado quando temos um conjunto de recomendações dentro das unidades e depois, à saída, uma mensagem contrária. Não há coerência. Pretende-se que, quando alguém entra no perímetro de um hospital, não seja confrontado com imagens de pessoas a fumar, que haja um espaço próprio para esse fim. As unidades devem definir uma estratégia para tentar reduzir a exposição ambiental nos espaços do SNS, que não podem ser só locais para tratar [doentes] mas também locais para promover a saúde. O exemplo dos IPO do Porto e de Lisboa é interessante. Fizeram campanhas internamente, disponibilizaram consultas de cessação tabágica, também englobaram associações e ligas de amigos, autarquias. Mas, nesta fase, temos que ser flexíveis. Estes espaços no exterior podem funcionar no jardim, atrás do hospital, há abertura para as instituições escolherem as fórmulas mais indicadas a cada caso, até porque são muito diferentes do ponto de vista físico. Também há locais que não têm hipótese de criar espaços exteriores. Por exemplo, no edifício do Ministério da Saúde não temos área circundante, portanto isto não é possível. O objectivo é termos uma estratégia clara para, até 2020, as unidades do SNS serem livres de fumo de tabaco.

Na alteração à lei do tabaco em 2017, a proposta de proibição de fumar a cinco metros das portas dos hospitais e escolas caiu, chumbada pelo PS e pelo BE. Esta nova iniciativa não será igualmente mal recebida?

Na discussão na Assembleia da República, alguns deputados acharam que a questão dos cinco metros constituía um limite à liberdade individual. Mas ficou expresso na lei que os serviços de saúde devem desenvolver medidas para sensibilizar, informar e apoiar quem deixar de fumar e, dentro do SNS, devem funcionar como exemplo na promoção da saúde. Este despacho, de alguma forma, obriga as unidades a ter uma estratégia, a desenvolver campanhas internas, a assegurar o apoio a consultas de cessação tabágica. Agora, isto é multifactorial, é preciso aumentar a sensibilização, o marketing, a promoção da saúde. Por isso, vamos voltar a pôr no ar aquela campanha [dirigida às mulheres jovens e que despertou acesa polémica no final de Maio]. Foi a campanha [antitabágica] mais vista de sempre no país. Chegou à grande maioria das casas das pessoas.

A aposta nas campanhas dirigidas especificamente às mulheres jovens deve-se ao aumento do consumo de tabaco neste grupo?

Sim. Há mesmo um artigo recente do New England Journal of Medicine que indica que o aumento dos casos de cancros é superior nas mulheres, para o mesmo nível de exposição ao tabaco. Aparentemente, as mulheres serão mais sensíveis ao impacto do tabagismo. E é expectável que este impacto vá crescer de forma significativa nos próximos anos, porque o consumo de tabaco está a aumentar nas mulheres.

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