Um típico restaurante de praia? Sim e não

Com uma carta abrangente, cozinha competente e serviço cuidado, no Palm Beach, em Armação de Pêra, o prazer gastronómico impõe-se sobre qualquer circunstância.

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Está no areal mas não é preciso pôr os pés na areia e tem também outra vantagem, que é a de proporcionar as melhores vistas de Armação de Pêra. Sim, porque nesta terra algarvia o melhor é mesmo dar as costas aos horrores urbanísticos e desfrutar do melhor que resta da baía que já foi paradisíaca e do pedaço de natureza que ainda sobrevive no recanto onde está instalado o restaurante.

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Está no areal mas não é preciso pôr os pés na areia e tem também outra vantagem, que é a de proporcionar as melhores vistas de Armação de Pêra. Sim, porque nesta terra algarvia o melhor é mesmo dar as costas aos horrores urbanísticos e desfrutar do melhor que resta da baía que já foi paradisíaca e do pedaço de natureza que ainda sobrevive no recanto onde está instalado o restaurante.

Protegido pelo morro e algum canavial, o Palm Beach lançou estacas no areal mas está suspenso aí a uns dois metros. A construção em madeira é consistente e para lá da varanda há também uma sala interior devidamente protegida, mesas compostas com toalhas de algodão, baixela elegante e serviço correcto e descontraído.

Digamos que não é um típico restaurante de praia, se bem que também não deixe de o ser. Ou seja, tanto é apropriado para o veraneante em calção e chinelos como para o traje mais formal, ou mesmo até o jantar romântico com o Sol de fim de tarde a derreter-se nas águas mansas do oceano.

E, a par do prazer gastronómico, proporciona também um enquadramento que remete para o tempo em que a marginal exibia belos chalés e moradias que compunham um dos mais interessantes e aprazíveis recantos do Algarve. Resta apenas a velha fortaleza, classificada como imóvel de interesse público, mas hoje perdida e anónima no caos de betão que por ali se instalou.

Quanto ao Palm Beach, ocupa o espaço do velho bar da praia, estando agora associado ao Hotel Holiday Inn, com propostas que seguem a mesma linha abrangente, de modo a compor uma refeição ligeira à base de entradas e mariscos, ou pratos de maior elaboração e consistência para a refeição mais completa e sugestões “Do Mar” e “Da Terra”. Há também opções vegetarianas e menu para crianças.

Com o cestinho de pão em fatias, um branco e outro escuro, chega também o couvert, com azeite de boa qualidade e uma tapenade de azeitonas com grão (2,70€). Além do gaspacho, é proposta também uma sopa de legumes (4,50€), que afinal se revelou um creme de feijão vermelho, por sinal bem saboroso, sápido e consistente. Igualmente convincente a sopa de peixe (5,50€), com carnes abundantes, cremosa e rica.

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Rita Rodrigues

Nas entradas, há um ceviche, amêijoas ou mexilhões à Bulhão Pato e cogumelos Portobello. O ceviche (12,50€), com salmão, pimento vermelho, gengibre e piripíri mostrou-se de execução correcta, com equilíbrio entre a acidez cítrica e o picante, e o complemento de chips de batata-doce. Em dose de quantidade generosa e suficiente para uma refeição rápida. Igualmente bem fornida a dose de amêijoas à Bulhão Parto (16,50€), da variedade japónica, babosas e correctamente cozinhadas com alho, azeite, vinho branco e coentro. Apetecia um pouco mais de calda, que se mostrou escassa.

Das sugestões “Do Mar” provou-se o caril de gambas (22€), cremoso, picante fresco e frutado e arroz basmati em empratamento elegante e dose, mais uma vez, generosa. E o mesmo se diga dos carapaus grelhados (12,50€), com três exemplares de tamanho médio cuidadosamente grelhados a deixar as carnes frescas brilhantes e suculentas. Acompanhou com batatinhas novas assadas, pimento, cebola e uma salada com tomate e pepino.

A carta propunha ainda sardinhas assadas (12,50€), salmão grelhado (16€), salteado de polvo com batata-doce e pimentos (17€), cataplana de peixes (40€, duas pessoas) e bacalhau à lagareiro (20€), a par de lagosta e camarão tigre para grelhar e apreçados ao quilo (95€ e 42€, respectivamente).

Nas propostas “Da Terra” há frango piripíri (12€), bife da vazia (20€), carré de borrego (23€), tendo sido pedido o filet mignon (26€). Peça do lombo, alta e de interior suculento num empratamento cuidado, com um gratinado de batata, espargos verdes salteados, cenourinha e tomate cherry assado. Não fosse um leve excesso de exposição ao calor a marcar demasiado a parte exterior da carne e estaria um prato perfeito.

Pouco estimulantes as propostas de sobremesa, com tartes de amêndoa ou maçã, uma mousse de chocolate e outra com sementes de papoila a fazer as honras de doce da casa.

A par do serviço profissional e atencioso, a carta de vinhos é também competente, com ofertas abrangentes e a preços acessíveis, cobrindo todas as regiões do país. Louve-se também o propósito de oferecer vinhos da região do Algarve e o cuidado na apresentação/enquadramento dos vinhos, com indicação do respectivo enólogo.

É,pois, ao abrigo do morro e de costas para a urbanização que melhor se está na praia de Armação de Pêra, onde resta ainda um recanto que, a par da satisfação gastronómica, evoca a memória dos antigos chalés e casas de veraneio que faziam sobressair o encanto da praia e baía atlântica.