Ataques de Trump aos media instigam violência real, diz relator da ONU

David Kaye, da ONU, critica os excessos de linguagem do Presidente dos EUA, que acusa a imprensa de ser "inimiga do povo". Casa Branca opta pelo silêncio mas Ivanka Trump demarca-se do pai.

Foto
ONU considera que o discurso de Trump é perigoso para os jornalistas e democracia REUTERS/Yuri Gripas

Os ataques verbais do presidente dos EUA contra a imprensa correm o risco de desencadear uma violência real contra jornalistas. O aviso é do relator especial da Organização das Nações Unidas para o direito à liberdade de opinião e de expressão, David Kaye. Numa declaração conjunta feita esta quinta-feira com Edison Lanza — que ocupa o mesmo cargo na Comissão Interamericana de Direitos Humanos — Kaye afirmou que as declarações de Donald Trump violam normas básicas da liberdade de imprensa.

Entre outras acusações, Trump diz que os jornalistas são “inimigos do povo norte-americano”, “muito desonestos” e que “distorcem a democracia”.

“Os ataques dele são estratégicos, feitos para fragilizar a confiança na imprensa e para questionar factos comprovados”, afirmaram os dois especialistas a propósito da linguagem inflamatória do Presidente norte-americano. "Esses ataques vão contra as obrigações que o país tem de respeitar a liberdade de imprensa e violam o direito internacional. Estamos especialmente preocupados que estes ataques aumentem o risco de os jornalistas serem alvo de violência", vincaram.

“Sempre que um Presidente chama à imprensa os ‘inimigos do povo’, ou deixa de permitir perguntas dos jornalistas, isso sugere motivações nefastas”, sustentam David Kaye e Edison Lanza. Até agora, em nenhum caso Trump forneceu provas de qualquer motivação indesejável que pudesse estar na base do que é publicado pelos media.

“Dois anos é demasiado tempo e pedimos ao Presidente Trump, à Administração e aos apoiantes que ponham fim a estes ataques”, lê-se no comunicado de David Kaye e Edison Lanza.

A porta-voz da Casa Branca para a imprensa, Sarah Sanders, optou pelo silêncio e por algumas declarações previamente preparadas, dizendo aos jornalistas presentes na conferência de imprensa que o Presidente tem “razões para estar forçado” com a cobertura negativa que ele diz que a imprensa faz da Administração Trump. Sem responder ao que lhe era perguntado, Sanders limitou-se a ler algumas declarações previamente preparadas, dizendo ainda que ela própria foi também alvo de ataque “num número de ocasiões”. "O Presidente foi muito claro nas declarações", resumiu.

Pelo contrário, Ivanka Trump, filha do Presidente norte-americano, demarca-se das declarações do pai. Durante um evento no Newseum – museu dedicado ao jornalismo, em Washington –, Ivanka disse que não vê a imprensa como inimiga do povo. “Já tive a minha dose de histórias sobre mim, que não eram exactamente como eram contadas, por isso sou sensível em relação às pessoas que me rodeiam e são alvo disso. Mas não, não acho que a imprensa seja inimiga do povo”.

Pouco depois da declaração de Ivanka, o Presidente norte-americano reagiu no Twitter. “Perguntaram à minha filha se ela achava ou não que a imprensa é inimiga do povo e ela respondeu correctamente que não. São as ‘fake news’, que são uma larga percentagem da imprensa, que são as inimigas do povo”, escreveu.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários