A literatura e a ilustração também rumaram ao Algarve e ocuparam uma aldeia

A cartoonista Rayma Suprani, expulsa da Venezuela por satirizado a política de saúde de Hugo Chavez, vai revelar num festival literário quanto vale a liberdade de expressão. Gastão Cruz é o homenageado.

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Cristina Sampaio
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Rayma Suprani
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Cecile Bertrand
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Nos próximos três dias, um manto poético cai sobre a montanha. À beira da serra do Caldeirão, acontece o Festival Literário Internacional de Querença (FLIQ). O homenageado deste ano é o poeta Gastão Cruz, a quem o ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, entregará neste sábado a Medalha de Mérito Cultural. A distinção é justificada pela “divulgação, promoção e crítica da poesia e literatura em geral, bem como do teatro e da música”. Mas que relação existe entre a literatura e a ilustração? Esta é uma das questões que vai estar no centro dos debates e conferências, com a participação de destacados nomes nacionais e estrangeiros. Haverá ainda lugar para ouvir jazz ao luar ou um concerto de “palavras cantadas” ao som da harpa e apreciar a magia do humor projectado em sons e imagens.

O festival, promovido pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG), abre com leituras de “poesia do mundo”, nas vozes de jovens imigrantes residentes no concelho de Loulé e oriundos de países tão diversos como o Nepal, Cabo Verde, República Dominicana, Índia ou Brasil. O encontro decorre num jardim sensorial, junto ao edifício

sede da Fundação, com vista para os montes e vales da Fonte da Benémola. O lugar, conhecido no campo gastronómico pelos manjares serranos, serve de palco para receber mais de 40 participantes entre escritores, poetas, ensaístas, investigadores, actores e músicos de várias nacionalidades.

De Miami para a aldeia, chega Rayma Suprani, cartoonista venezuelana que foi expulsa do jornal El Universal por ter satirizado a política de saúde de Hugo Chavez. “La Magia de un Lapiz” é o título da comunicação desta exilada nos EUA. “Vamos discutir a liberdade de expressão, com humor”, adianta Marinela Malveiro, da comissão organizadora do FLIQ _ um encontro, justifica, destinado a dar a conhecer outras formas de olhar o mundo a partir do interior do país. O arqueólogo e investigador da Universidade do Algarve, Nuno Bicho, revela outras leituras: a arte rupestre em África e as grutas das salostreiras (Querença), fazendo assim a ponte entre a cultura local e o homem global.

Cécile Bertrand, vinda da Bélgica, junta-se a Cristina Sampaio, cartoonista portuguesa com percurso em Portugal e no estrangeiro, e a Eduardo Salavisa, desenhador do quotidiano, para a conferência “Como desenhar o mundo”. A sessão deste painel encerra no domingo com uma comunicação de Guilherme d’Oliveira Martins (ele próprio fã da ilustração e da banda desenhada). “Património Cultural — Realidade Viva” é o título da conferência que pretende evidenciar a importância da preservação dos valores de uma região que, não raras vezes, tem evoluído ao sabor dos interesses de cada momento. “O mundo rural é, também, uma filosofia de vida que não pode ser esquecida, numa altura em que se discute a sustentabilidade do território”, enfatiza o presidente da FMVG, Gabriel Gonçalves, destacando o FLIQ enquanto veículo de aproximação de culturas e de povos. “Esse é legado do patrono da Fundação, Manuel Viegas Guerreiro, um humanista”, enfatiza.

As ideias e as conversas cruzadas em torno da obra de Gastão Cruz, neste sábado, vão ser conduzidos por Lídia Jorge, numa conferência em que participam António Carlos Cortez (que venceu este ano o Grande Prémio Poesia Teixeira de Pascoaes, da Associação Portuguesa de escritores), Miguel Casado, poeta, crítico literário e tradutor) e o escritor Fernando Cabral Martins. Os poemas do homenageado vão ser lidos pelo ex-reitor da Universidade do Algarve, António Branco, que foi actor de teatro. “Sem dúvida, este é um momento alto na vida cultural da região”, diz Marinela Malveira, chamando a atenção para o concerto “4 mãos”, que conta com António Jorge Gonçalves e Filipe Raposo ao piano.

No painel sobre literatura e artes plásticas vão intervir, entre outros, o escritor Nuno Júdice, para quem o homenageado é um dos valores maiores da poesia contemporânea. “Retoma a proclamação pessoana da poesia como fingimento sincero, mas vai além desse conceito ao atribuir à própria linguagem a capacidade de ser ela a produzir emoção, independentemente do referente subjectivo”, escreveu. Em paralelo decorre uma feira do livro, com obras de alguns dos autores presentes, exposições, oficinas de ilustração, desenho e animação ao ar livre.

Gastão Cruz (Faro, 1941), poeta, crítico literário, encenador e tradutor já fora distinguido com o Prémio D. Dinis por Crateras (2000), o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores por Rua de Portugal (2004) e o Correntes d’Escritas com A Moeda do Tempo (2009). Agora, o ministro Luís Filipe de Castro Mendes justifica a atribuição da Medalha de Mérito Cultural, avança a organização do FLIQ, “em reconhecimento do inestimável trabalho de uma vida dedicada à poesia, à produção literária e à escrita, difundido amplamente a Língua e a Cultura portuguesas, ao longo de mais de 50 anos”.

O centenário de Tóssan, ilustrador, pintor, decorador e gráfico, também será lembrado neste Festival, onde as artes poéticas se cruzam com a ruralidade algarvia.

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