Michael Andrew, o candidato à sucessão de Phelps que treina no quintal

Com o final de carreira da "Bala de Baltimore", este jovem de 19 anos do Kansas está a mostrar credenciais para ser a nova grande "estrela" da natação mundial.

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Michael Andrew apresenta credenciais para ser um sério candidato à sucessão de Phelps Gary A. Vasquez-USA TODAY Sports
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Michael Phelps, até ver, já não volta, e a natação norte-americana (e mundial) continua à procura de sucessores, um supercampeão ou campeã que consiga fazer coisas como ganhar oito medalhas de ouro na mesma edição dos Jogos Olímpicos. Há muita gente que fala de Caeleb Dressel, heptacampeão mundial em 2017, como o novo Phelps, ou de Katie Ledecky, pentacampeã olímpica em 2016. Pode ser Joseph Schooling, o nadador de Singapura que bateu Phelps nos 100m mariposa no Rio de Janeiro, ou até o pequeno Clark Kent, o miúdo de dez anos que bateu um antigo recorde de Phelps nessa categoria etária.

Mas os nacionais de natação dos EUA, que decorreram recentemente em Irvine (Califórnia), apresentaram ao mundo mais um forte candidato à sucessão da bala de Baltimore: Michael Andrew, o adolescente de 19 anos que é treinado pelo pai na piscina do quintal da sua casa e que é nadador profissional desde os 14. Já há muito que lhe apontavam um grande futuro, com a obtenção de várias dezenas de recordes nos diferentes escalões etários, mas só agora é que começa a ganhar aos melhores e a mostrar uma capacidade multidisciplinar que pode muito bem rivalizar com a de Phelps, dominador sobretudo na mariposa e nas provas de estilos.

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O grande feito de Andrew nestes campeonatos norte-americanos foi o de bater Caeleb Dressel, a grande “estrela” da natação norte-americana, em dois eventos, os 50m mariposa (que não é uma prova olímpica) e nos 50m livres, uma disciplina em que Dressel é campeão do mundo. Para além da dupla vitória sobre Dressel, Andrew venceu ainda as provas de 50m e 100m bruços e foi terceiro nos 100m mariposa e quarto nos 50m costas. Este conjunto de exibições valeu-lhe um lugar na selecção norte-americana que vai disputar neste mês os supercompetitivos campeonatos Pan-Pacíficos , juntamente com outras das grandes potências da natação, como o Japão, a Austrália, a China ou o Brasil.

“Acho que isto foi o início da minha carreira profissional adulta. Fui seleccionado pela primeira vez para uma prova internacional em piscina longa [50m] e acho que isto me dá muita credibilidade, especialmente por os meus métodos de treino serem tão diferentes”, dizia Andrew após os nacionais norte-americanos. E o que é que faz de Andrew um nadador diferente dos outros? O jovem do Kansas não está ligado a nenhuma universidade, nem a nenhum clube, e não integra um grupo de treino. Treina sozinho numa piscina no seu quintal e o seu pai, um antigo mergulhador da marinha sul-africana, é o seu treinador.

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Nada da vida desportiva de Michael Andrew tem sido normal. Filho de dois imigrantes sul-africanos, Andrew estuda e treina em casa, e é nadador profissional desde os 14 anos, e desde logo com patrocínios de várias empresas, entre elas a Adidas — e por isto está impedido de nadar no circuito. O pai, Peter, construiu no quintal da casa da família em Lawrence, no Kansas, uma piscina coberta de 25 metros de comprimento com duas pistas e é o responsável pelo treino, enquanto a sua mãe, Tina, ex-membro do programa British Gladiators, é a responsável pela gestão comercial da carreira de Michael.

Michael Andrew não tem companheiros de treino, e treina como nada em competição, a dar tudo. “O meu parceiro é um cronómetro”, diz o jovem nadador sobre os seus pouco ortodoxos métodos de treino. “E isso só mostra que há mais do que uma maneira certa de fazer as coisas. Está tudo na forma como as coisas ficam codificadas no nosso cérebro, é reproduzir no treino aquilo que precisamos de fazer em prova. É como programar o computador”, acrescenta o jovem nadador que, em breve, se irá mudar para a Califórnia.

Com todo o seu talento precoce e a promessa de grandes feitos desde cedo, Michael Andrew falhou por pouco o apuramento para os Jogos Olímpicos de 2016, onde teria 17 anos — neste capítulo já não irá apanhar Phelps, que tinha 15 anos quando se estreou nos Jogos de Sydney, em 2000. Mas agora sente-se pronto para grandes feitos: “Nunca me senti tão preparado. Fisicamente, estou onde preciso de estar. E isso dá-me muita confiança cada vez que estou nos blocos, saber que tenho força e que não vou ‘morrer’ nos últimos metros como costumava acontecer.”

Para já, Michael Andrew é um especialista em distâncias curtas, até porque tem treinado numa piscina curta — já tem, inclusive, uma medalha de ouro e duas de prata nos Mundiais de piscina curta de 2016 — mas agora tem os olhos postos na piscina de 50 metros e nos Mundiais de 2019 e em várias especialidades. Depois, virá o apuramento para os Jogos de Tóquio de 2020. E sem Phelps para defender o trono, ele será um dos pretendentes.

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