Encerramento do Atendimento Complementar da Póvoa de Santa Iria gera protestos

Para autarcas e utentes, a decisão de desactivar o SAC da Póvoa vai, inevitavelmente, levar mais utentes a recorrerem à urgência do Hospital de Vila Franca de Xira, já de si sobrecarregada.

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Rui Gaudencio

O Serviço de Atendimento Complementar (SAC) que funcionava no Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria entre as 20h00 e as 22h00 encerrou na quarta-feira. A medida é justificada com a criação de uma unidade de saúde familiar na Póvoa e com o objectivo de concentrar recursos na vizinha Alverca, mas tem gerado muitas críticas de utentes e autarcas locais. Na segunda-feira realizou-se uma concentração de protesto frente às instalações do centro de saúde povoense e circula um abaixo-assinado contra esta decisão do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Estuário do Tejo.

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O Serviço de Atendimento Complementar (SAC) que funcionava no Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria entre as 20h00 e as 22h00 encerrou na quarta-feira. A medida é justificada com a criação de uma unidade de saúde familiar na Póvoa e com o objectivo de concentrar recursos na vizinha Alverca, mas tem gerado muitas críticas de utentes e autarcas locais. Na segunda-feira realizou-se uma concentração de protesto frente às instalações do centro de saúde povoense e circula um abaixo-assinado contra esta decisão do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Estuário do Tejo.

A União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa é a mais populosa do concelho de Vila Franca de Xira, com cerca de 45 mil habitantes, e o SAC agora encerrado servia também a vizinha freguesia de Vialonga, com mais cerca de 25 mil habitantes. Significa isto que perto de 60 mil utentes das freguesias do Sul do concelho terão, agora, que recorrer ao Serviço de Atendimento Complementar de Alverca, que já revelava dificuldades para responder à procura e passa a ser o único serviço deste tipo num concelho com 140 mil habitantes. Para autarcas e utentes, a decisão de desactivar o SAC da Póvoa vai, inevitavelmente, levar mais utentes a recorrerem à urgência do Hospital de Vila Franca de Xira, já de si sobrecarregada.

O ACES do Estuário do Tejo, que coordena as unidades de cuidados de saúde primários de cinco concelhos da região (Alenquer, Arruda, Azambuja, Benavente e Vila Franca), não tem o mesmo entendimento e justifica o encerramento com a opção por ter apenas um SAC a funcionar em cada um destes concelhos. O agrupamento alega, também, que, com a recente criação da USF (Unidade de Saúde Familiar) Reynaldo dos Santos na Póvoa, que permitiu atribuir médico de família a cerca de 14 mil utentes, o funcionamento do SAC povoense “deixou de se justificar”.

O PCP da Póvoa de Santa Iria organizou, na segunda-feira, uma concentração de protesto junto ao centro de saúde local e acusa o ACES de ter escolhido a época de Verão “para, pela calada, roubar um serviço importante para as populações da Póvoa e do Forte da Casa. A solução alternativa, apontada pela direcção do ACES, passa pela concentração das populações de Alverca, Sobralinho, Vialonga, Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, ou seja, mais de meio concelho, no SAC de Alverca, que é assegurado apenas por dois médicos. É urgente exigir a continuidade do Serviço de Atendimento Complementar na Póvoa, bem como o reforço dos meios necessários para que mais de 2500 pessoas possam finalmente ter um médico de família. Para além da clara insuficiência de meios humanos, somam-se as dificuldades de transportes e os respectivos custos para uma população bastante envelhecida e com incapacidade económica”, sustenta o partido.

Também o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, o socialista Alberto Mesquita, coloca “muitas reservas” à eficácia desta decisão, considerando que a mesma pode vir “a causar impactos negativos na boa prestação de serviços do Centro de Saúde de Alverca e do próprio hospital”. Solicitou, por isso, informação complementar e uma reunião com os responsáveis do ACES, “na perspectiva da reposição destes serviços”.

O ACES do Estuário do Tejo sustenta, por seu turno, que o SAC da Póvoa funcionava com um médico. Com a criação, há cerca de um ano, da Unidade de Saúde Familiar da Póvoa, o número de utentes sem médico baixou de 16 mil para 2500 e mesmo esses, garante o ACES, têm sido acompanhados por médicos contratados. “Analisámos os utentes que frequentavam o SAC da Póvoa, tendo verificado que a maioria tem médico de família atribuído, que têm vagas disponíveis nas suas agendas”, justifica o ACES.

De acordo com a mesma fonte, o médico que trabalhava no SAC da Póvoa passa a reforçar o SAC de Alverca aos fins-de-semana, tudo com o objectivo de “rentabilizar melhor” as consultas das unidades de saúde familiar e de “concentrar recursos para dar uma resposta mais eficaz à população do concelho”.

A ACES Estuário do Tejo prevê, ainda, que esta medida não venha a congestionar mais o SAC de Alverca, porque “o objectivo é que os utentes sejam vistos pelos seus médicos de família na consulta do dia, destinada às consultas de doença aguda ou agudização da doença crónica. Todos os médicos têm disponíveis diariamente na sua agenda vagas para estas consultas”, conclui o agrupamento.