Proporção de mulheres entre os diplomados com o nível mais baixo em duas décadas

Cursos do ensino superior de curta duração estão a levar mais homens a obter um diploma e por isso a proporção de mulheres entre os diplomados baixou em 2016/2017, embora estas continuem a estar em maioria neste grupo.

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As mulheres continuam a estar em maioria no ensino superior mas o seu peso está a diminuir Paulo Pimenta

O número de diplomados do ensino superior subiu em 2016/2017, mas nunca a proporção de mulheres neste lote foi tão baixa em 21 anos, conforme é destacado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) na nova fornada de dados que divulgou esta semana.

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O número de diplomados do ensino superior subiu em 2016/2017, mas nunca a proporção de mulheres neste lote foi tão baixa em 21 anos, conforme é destacado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) na nova fornada de dados que divulgou esta semana.

Para esta oscilação “histórica”, apesar de por comparação aos últimos anos ter sido apenas de dois pontos percentuais, terão contribuído, essencialmente, os novos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (Tesp), que no ano passado levaram a que o contingente masculino contasse com mais 1839 diplomados.

Esta é uma das pistas apontadas ao PÚBLICO pelas investigadoras da Universidade do Minho e do Centro de Investigação em Políticas do Ensino Superior, respectivamente Carla Sá e Orlanda Tavares, a propósito da descida da proporção de diplomados do sexo feminino, já que “os Cursos Técnicos Superiores Profissionais, que são sobretudo frequentados por rapazes, têm visto a sua frequência aumentar”. Os dados mostram que a relação existe de facto.

Os Tesp foram criados em 2014/2015 com o objectivo de aumentar a procura do ensino superior, nível de ensino a que dão acesso sem ser necessário realizar os exames nacionais do ensino secundário. Podem ser concluídos em dois anos e conferem um diploma de técnico superior profissional, que para efeitos de estatísticas é englobado no número total de diplomados, onde entram em linha de conta também todos aqueles que num determinado ano concluíram licenciaturas, mestrados e doutoramentos.

O ano passado foi o segundo em que houve diplomados dos Tesp: um total de 3213, dos quais 57,2% eram do sexo masculino. No ano anterior apenas houve registo de 170 diplomados nestes cursos, sendo 70% homens. No conjunto das várias formações, em 2016/2017, houve mais 2214 diplomados do sexo masculino, sendo que 83% deste aumento se deve aos Tesp.

E foi este aumento que levou à descida para 57,9% na proporção das diplomadas que até 2006/2007 se manteve acima dos 60%, tendo este valor oscilado a partir de então entre os 57,9% de 2016/2017 e os 59,9% de 2011/2012. Ou seja, frisa a investigadora do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Mariana Alves, “as mulheres mantêm-se como a maioria dos estudantes e diplomados no ensino superior, mas verifica-se nos últimos anos um certo reequilíbrio do peso dos dois sexos e um abrandamento do crescimento do peso do sexo feminino”.

Sobe e desce

Nas últimas duas décadas, o número absoluto de mulheres diplomadas só diminuiu em seis anos. A maior quebra foi registada em 2008/2009, tendo passado por comparação ao ano anterior de 48.514 certificações para 43.494 (menos 5020). No sentido oposto, com a maior subida, destaca-se 2000/2001, com um registo de mais 5180 diplomadas.

Já o número de diplomados do sexo masculino diminuiu em cinco dos 21 anos em análise, tendo a maior descida ocorrido também em 2008/2009 (menos 2662), que no total foi em 12 anos o período com menos formações no ensino superior. Já os anos com maior subida de formados do sexo masculino são os de 2006/2007 (mais 7231) e 2016/2017 (mais 2214), o tal em que a proporção de diplomadas atingiu o seu valor mais baixo.

Carla Sá e Orlanda Gonçalves lembram também a este respeito que o alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos, a que se juntou uma maior oferta de cursos profissionais, terá levado a que haja “mais rapazes a não abandonar os estudos até ao 12.º ano e, portanto, também que existam mais em condições de aceder ao ensino superior”.

A taxa de abandono escolar precoce, que dá conta dos jovens que entre os 18 e os 24 anos não se encontram a estudar, foi sempre superior entre os rapazes do que nas raparigas, mas nos primeiros passou de 20,7% em 2014 para 15,3% em 2017.

Por comparação ao ano anterior, houve mais 3948 diplomados em 2017, atingindo-se um total de 77.034 diplomas, o quinto valor mais alto dos últimos 21 anos. Também relativamente a 2016, a área de Tecnologias da Informação e Comunicação, que é uma das principais prioridades do actual Governo, registou o maior aumento no número de diplomas: 72,6% (de 857 para 1479), enquanto a área da Educação, mantendo a tendência registada desde 2013, apresentou um decréscimo de 4,1% (de 3861 para 3702 diplomas).