Moradores pedem que o eléctrico 28 seja “mais digno e mais fiável”

Um grupo de moradores da baixa e do Castelo juntou-se para apresentar algumas ideias para que as viagens no eléctrico 28 sejam menos “desconfortáveis” para quem o utiliza para ir para a escola ou para o trabalho, sem deixar de fora quem está de visita à capital.

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As obras que pararam a circulação do 28 na Rua das Escolas Gerais, em Alfama Nuno Ferreira Santos
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As obras que pararam a circulação do 28 na Rua das Escolas Gerais, em Alfama Nuno Ferreira Santos

Primeiro, são os turistas que chegam aos magotes à procura do “autêntico” e tradicional eléctrico 28. Depois, são as filas intermináveis que se formam nas paragens iniciais, como o Martim Moniz, fazendo com que o eléctrico inicie o trajecto já apinhado, tornando impossível a quem entre pelo caminho arranjar lugar sentado. Depois, há as compras do bilhete a bordo, que entopem as entradas. E os carros parados sobre os carris que impedem a passagem do eléctrico e atrasam o trajecto.

O que podia ser uma viagem agradável pelas colinas de Lisboa a bordo do 28 acaba por se tornar “desconfortável, demorada e insegura, quebrando o encanto e tornando a dependência desta linha num problema diário” para quem segue para o trabalho ou está de passeio pela cidade. Foi justamente a necessidade de acabar — ou minimizar — esse “desconforto” o que levou um grupo de cerca de 40 moradores da baixa e do Castelo a endereçar, em Março, uma carta à câmara de Lisboa, à assembleia municipal, à Carris e às juntas de freguesia por onde passa a carreira. Mas, face à falta de “respostas construtivas”, avançaram para a criação de uma petição para que estas ideias possam ser subscritas e discutidas por quem assim o entender, conta ao PÚBLICO Inês Horta Pinto, uma das autoras do documento. 

Há pelo menos cinco anos que a jurista de 39 anos, que mora na Rua da Madalena, apanha diariamente o 28 para levar o filho à escola, no Castelo, e para seguir para o trabalho no Príncipe Real. Conta que os eléctricos circulam recorrentemente lotados, dificultando a vida a quem vai para a escola ou para o trabalho, que as condições de viagem chegam “a ser degradantes”, com passageiros apertados, incluindo idosos e crianças. O que também chega a ser desconfortável para estrangeiros que, por várias vezes, se vêem roubados na confusão por carteiristas. 

“O eléctrico 28 percorre um eixo para o qual não existem alternativas de transporte público. Não é apenas uma atracção turística: é um meio de transporte fundamental para inúmeras pessoas que residem, trabalham ou frequentam o ensino ao longo desse extenso eixo”, lê-se na petição dirigida a quem os moradores escreveram inicialmente. 

Em primeiro lugar, defendem os peticionários, é preciso aumentar o número de veículos. A Carris diz ter, neste momento, além dos 16 eléctricos que funcionam normalmente na carreira, mais três a quatro carros de reforço para fazer face à maior afluência de pessoas no eléctrico 28. E diz que é “sensível” à questão dos moradores. Por essa razão, “a empresa está a activar todos os meios possíveis para resolver o problema de circulação de pessoas”. Em resposta ao PÚBLICO, a operadora diz ainda que parte do percurso do 28 foi reforçada com mini-autocarros e que está em curso um processo de renovação da frota, com a aquisição de mais eléctricos e desse tipo de autocarros.

Essa é precisamente outra das propostas apresentadas na petição, a do reforço da carreira do 28, nas horas de ponta, com mini-autocarros, circulando alternadamente com os eléctricos, para ajudar os moradores a terem uma alternativa. Esta solução foi, aliás, adoptada durante os cinco meses de obra na Rua das Escolas Gerais — onde o piso abateu e revelou vestígios arqueológicos do século XVI —, que impediu a normal circulação do eléctrico. 

“Ter experimentado o mini-autocarro durante este período convenceu-me de que pode ser uma boa solução”, reconhece Inês Pinto. Mas, ressalva, não quer com isto empurrar os turistas para o eléctrico e os moradores para o autocarro. 

“É errado converter o eléctrico em atracção turística”, alerta, notando, aliás, que os carros castanhos e verdes que são usados para percursos turísticos nunca estão sobrelotados. É por isso que propõe também que os turistas sejam encaminhados para esses eléctricos, reduzindo, por exemplo, o preço dessas viagens.

Para minimizar o tempo dos percursos, os peticionários propõem ainda que se acabe com a compra de bilhetes a bordo, que faz aumentar o tempo das paragens. Em vez disso, alguns pontos poderiam ter máquinas de venda ou um funcionário com essa função.

Mas o que atrasa mais as viagens ainda são os obstáculos que vão aparecendo no caminho. Não raras vezes, um carro ou um camião estacionam nos carris, impedindo a normal circulação do eléctrico. “Quase não há dia que eu faça o percurso para o trabalho e o eléctrico não tenha de parar porque alguém estacionou em cima dos carris”, nota a peticionária. 

A própria Carris reconhece a existência de atrasos. A carreira 28 tem um intervalo médio entre carros de nove minutos. Só que estes tempos, por vezes, “não são cumpridos devido a perturbações no percurso, nomeadamente interrupção por estacionamentos indevidos, cargas e descargas e elevado volume de tráfego”, diz a operadora. 

Como forma de sensibilização dos condutores, os peticionários sugerem a implementação de um “sistema de actuação rápida”, entre Carris, Polícia Municipal, PSP e EMEL, para resolver situações de carros estacionados que impeçam a passagem do eléctrico. A Carris diz que este sistema já está em curso.

O primeiro objectivo dos peticionários era que estas ideias fossem ouvidas e participadas. “Procuramos ser construtivos. A ideia era fazer chegar as sugestões a quem as pudesse considerar, mas não tiveram qualquer acolhimento”, nota Inês Horta Pinto. Agora estão aí para quem as quiser subscrever. Até ao final desta terça-feira, a petição, lançada a 25 de Julho, tinha reunido perto de 200 assinaturas. 

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