Oposição contesta demora na divulgação dos resultados no Zimbabwe

Foram anunciados com horas de atraso os primeiros sete deputados eleitos. Nas redes sociais, o líder da oposição denunciou irregularidades, mas a Comissão Eleitoral garante que o processo foi transparente.

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Na ausência de notícias concretas, espalham-se rumores YESHIEL PANCHIA/EPA

Canhões de água circulavam esta terça-feira na capital do Zimbabwe, Harare, quando os primeiros resultados eleitorais tardavam a ser anunciados. A oposição prometeu que levaria a comissão eleitoral a tribunal por demorar a divulgar os resultados, que começou a tornar públicos com horas de atraso. Os dois candidatos principais declaravam-se confiantes na vitória.

Um político da Aliança MDC (Movimento para a Mudança Democrática, MDC), Tendai Biti, antigo ministro das Finanças num Governo de unidade entre a Zanu-PF (União Africana Nacional do Zimbabwe-Frente Patriótica), o partido no poder, e o MDC, então liderado por Morgan Tsvangirai, reclamou vitória e acusou a Zanu-PF de “interferir com a vontade do povo”, diz a BBC. Há, disse Biti, “um atraso deliberado na divulgação dos resultados”.

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A taxa de participação terá rondado os 75% EPA/AARON UFUMELI

A oposição, declarou Biti, recolheu resultados pelo país que mostram de modo claro que Nelson Chamisa venceu as eleições. Já um porta-voz da Zanu-PF negou as acusações e afirmou-se confiante numa vitória do seu partido.

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Nelson Chamisa, 40 anos, no momento da votação REUTERS/Mike Hutchings

A Comissão Eleitoral disse entretanto pouco depois que estavam eleitos seis deputados da Zanu-PF e um da Aliança MDC. Estão em disputa ainda mais 206 lugares.

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Emmerson Mnangagwa, 75 anos, no momento em que votou REUTERS/Philimon Bulawayo

Antes, no Twitter, Nelson Chamisa, do MDC, declarou que a Comissão Eleitoral do Zimbabwe impediu a votação em algumas áreas urbanas onde o MDC tem forte apoio. "A vontade das pessoas está a ser negada por causa destes atrasos deliberados e desnecessários", acusou. 

Chamisa foi apontado pelas sondagens como o segundo favorito, mas não muito longe de Emmerson Mnangagwa, o actual Presidente interino.

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Robert Mugabe foi forçado a deixar a Presidência em 2017. Foi votar em Harare REUTERS/Siphiwe Sibeko

Observadores dizem que os números dos dois candidatos estão demasiado próximos para se reconhecer um vencedor. O país admitiu pela primeira vez desde há 16 anos observadores eleitorais da União Europeia e dos Estados Unidos. 

Os resultados oficiais deverão ser conhecidos apenas no final da semana. No total, as primeiras eleições no Zimbabwe após Robert Mugabe — que governou o país durante 37 anos — mobilizaram 23 candidatos. Quer o actual Presidente interino, Emmerson  Mnangagwa, 75 anos, quer o principal rival, Nelson Chamisa, 40 anos, afirmaram-se confiantes num resultado vitorioso.

Mnangagwa subiu ao poder após a queda de Mugabe. Na manhã desta terça-feira, o candidato da Zanu-PF, conhecido como o “crocodilo”, disse estar a receber “informações extremamente positivas” em relação aos resultados eleitorais. Também Chamisa, advogado e pastor, acredita que o partido se saiu “muito bem”, apesar das acusações feitas nas redes sociais sobre a forma como as votações foram conduzidas.

Para além de escolher um Presidente, os eleitores votaram ainda na escolha dos membros do Parlamento e de mais de 9000 conselheiros.

Mugabe deixou a presidência em Novembro de 2017, depois de ter tentado que a mulher, Grace, fosse a sucessora. O partido forçou a demissão de um dos líderes há mais tempo no poder do mundo, e os militares assumiram o controlo do país por um breve período de tempo. 

O vencedor das eleições assumirá a presidência depois de décadas de corrupção, isolamento diplomático e deriva autoritária.

Caso nenhum candidato consiga a maioria absoluta, o país regressa às urnas a 8 de Setembro.

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