O mar subiu às ruas de Matosinhos para entrar num projecto de Arte Urbana

O projecto Se Esta Rua Fosse Mar arrancou no início desta semana e prolonga-se até ao final de Agosto para dar continuidade ao processo de requalificação da área de restauração da cidade e promover a redução da velocidade automóvel dentro da localidade.

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Francisco Teixeira/CMM
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O mar subiu às ruas de Matosinhos e com ele trouxe algumas espécies marinhas que nos próximos meses farão parte da paisagem urbana das artérias próximas da linha de praia. É em sentido figurativo que descrevemos o projecto de Arte Urbana iniciado esta semana e que se estende até ao final de Agosto. Se Esta Rua Fosse Mar é a designação escolhida pela autarquia para um projecto que conta com vários intervenientes e que combina vários objectivos. Pretende-se com esta iniciativa valorizar a área de restauração em torno da rua Heróis de França, envolver jovens do concelho e promover a prevenção rodoviária.

Na Gago Coutinho, a primeira de quatro ruas a ser intervencionadas, já se pode calcar o azul do Atlântico que se estendeu até ali. Há polvos, estrelas do mar, caranguejos e outras espécies que se atravessam ao longo da parte da artéria que está entre Serpa Pinto e Heróis de França.

Apesar de a distância entre esta zona e o oceano não ser grande, há um intervalo mais do que suficiente para que ali não chegue uma gota de água salgada. É no piso, neste caso no alcatrão, que estes motivos alusivos ao mar estão desenhados e pintados. Até ao final da iniciativa o paralelo das ruas Conde S. Salvador, 1º de Dezembro e do Godinho também servirá de tela para ilustrar este que é um dos maiores símbolos desta cidade costeira, que cresceu em torno da faina marítima e dos negócios que advêm deste sector.  

Associada à componente estética da iniciativa orçada em 20 mil euros há também o objectivo de dar continuidade ao processo de requalificação da via pública levado a cabo nos últimos tempos no quarteirão de Heróis de França e Serpa Pinto, onde se situam as artérias que são parte do projecto e onde está a zona de restauração que mais movimento atrai à cidade. No ano passado, todas as esplanadas dos restaurantes foram substituídas, diz-nos a presidente da autarquia, Luísa Salgueiro. Tentou-se também resolver o problema do estacionamento. “Depois dessas intervenções passamos agora para o embelezamento, no próprio piso, das artérias à volta dos restaurantes que ganharão outra vida, que beneficiará quem nos visita, os que são daqui, empresários da restauração e quem lá trabalha”, sublinha.

Tirar o pé do acelerador

Outra meta é reduzir a velocidade dos veículos naquela área: “É uma zona de trânsito diferente, com muitos peões que aqui circulam para vir aos restaurantes”. Servirá esta montra para que quem ali passa de carro possa levantar o pé do acelerador para admirar as obras que estão a nascer. 

Numa primeira fase, são responsáveis pelo desenvolvimento destes trabalhos alunos da Escola Secundária Augusto Gomes. Foi um grupo de jovens deste estabelecimento de ensino no centro da cidade que esboçou todo o material que já começou a ser passado para o piso das ruas.

A partir daí, um grupo de writers do Colectivo Rua, fundado em 2006 no Porto, reinterpretou os esboços de forma a torna-los exequíveis. “Simplificamos formas, tornando-as mais planas, sem usar gradientes ou grandes detalhes. O detalhe que estamos a dar é com a cor e não com traço, para permitir uma melhor leitura a quem passa de carro”, explicam dois membros do colectivo que respondem pelos nomes artísticos de Fedor e Contra. São também estes artistas que estão responsáveis pela pintura dos desenhos. Contarão ainda com a participação de alguns voluntários que se associaram ao projecto.

A esta escala é a primeira vez que pintam no chão. Estão mais habituados a usar o spray e a pintar em tela ou na parede. “Há diferenças a nível de textura e de aderência”, salientam.

Para que as obras se aguentam no melhor estado durante o maior tempo possível foi necessário adquirir tintas específicas para o efeito. “O suporte tem algumas limitações. A tinta de spray desapareceria ao fim de uma semana”, elucida João Cabral, da Idiot Mag, responsável pela produção. Não existia em Portugal, tiveram que adquiri-la em Barcelona. “Comprámos uma tinta de resina acrílica própria para alcatrão e paralelo que garante, apesar das centenas de carros que aqui vão passar, que as obras durem em bom estado pelo menos cinco meses”, afirma.

Proprietário de um restaurante da Gago Coutinho, José Silva, diz que depois das obras a zona envolvente ganhou outra vida a nível estético. Apesar do protocolo que existe com a Docapesca, ali perto, afirma continuar a existir quem não respeite e continue a deixar os veículos mal estacionados. Os restaurantes pagam à empresa do sector das pescas para que os clientes possam usar o parque de estacionamento gratuitamente.

Sobre esta iniciativa defende que tudo o que seja feito na tentativa de uma melhoria é bem-vindo: “Esta é uma zona histórica de Matosinhos onde agora mora pouca gente e onde existem muitas casas devolutas. Se esta iniciativa não chamar mais gente para cá, certo é que embeleza a rua”. 

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