Empresa de Alqueva lança morcegos contra traças e mosquitos

Pretende-se substituir ou moderar o uso excessivo de agrotóxicos à medida que as culturas permanentes ocupam o território regado por Alqueva.

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Ao que tudo indica, os insecticidas e pesticidas que são usados no combate a pragas e doenças na área do regadio do Alqueva, sobretudo nas culturas permanentes (olival intensivo e outras árvores de fruto), ou não são suficientes para debelar as doenças ou reconhece-se que o uso deste tipo de agrotóxicos deve ser moderado. Por isso, a empresa que explora o Alqueva decidiu usar outra arma: os morcegos.

Está cientificamente provado que o uso deste tipo de substâncias químicas, de modo intensivo, pode levar à degradação dos recursos naturais, por vezes de forma irreversível, levando a desequilíbrios biológicos e ecológicos, entre eles a contaminação dos lençóis freáticos e do próprio solo.

Além do mais, e através do processo de selecção natural, as pragas podem-se tornar muito resistentes à acção dos pesticidas, levando os agricultores a aumentar a quantidade dos químicos usados, agudizando o problema.

Num estudo realizado por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade de Évora (Cibio-UE), e publicado em 2015 na revista Animal Conservation ,conclui-se: “A “homogeneidade associada à intensificação dos olivais é a principal causa da diminuição do nível de actividade e da diversidade de (várias) espécies (de morcegos) nestas culturas”, assinalam os investigadores, realçando a importância de se “garantir a presença e funcionalidade dos morcegos insectívoros em olivais” através da presença de habitats naturais, “como sebes e pequenas manchas florestais”. Dessa maneira, os quirópteros contribuem substancialmente para a estrutura e dinâmica dos ecossistemas ao actuarem como polinizadores, dispersores de sementes e predadores de insectos, incluindo pragas agrícolas. 

Por isso, a EDIA acaba de anunciar que tem em curso um projecto-piloto de combate a pragas por meios naturais para servir as explorações servidas pelo projecto Alqueva, recorrendo à instalação de caixas especialmente concebidas para refúgio dos morcegos. Cada caixa será colocada “em locais previamente seleccionados, maioritariamente em árvores”, onde podem ser albergados cerca de 200 morcegos. Pretende-se criar desta forma “condições para a consolidação de uma colónia de morcegos”.

A opção pelos morcegos no combate às pragas pretende “aproveitar a voracidade destes animais para um combate efectivo às pragas nas culturas”, explica a EDIA em comunicado.

O morcego, prossegue a EDIA, “sendo um animal insectívoro, afigura-se como um importante aliado do homem no combate biológico aos insectos que, na maior parte das vezes, constituem pragas para as culturas instaladas, nomeadamente os mosquitos e a traça da azeitona, entre outros”.

Cada morcego da espécie (pipistrellus-pipistrellus kuhlii) que vai ocupar as caixas pesa em média seis gramas e consome por noite metade do seu peso em insectos. “E se tivermos em conta que uma só caixa pode albergar cerca de 200 morcegos, então poderemos dizer que cada caixa de morcegos será responsável pela dizimação de 7 milhões e 200 mil mosquitos por mês, ou 3 milhões e 600 mil traças da oliveira”. Assim, “num mês, uma só caixa pode representar uma captura de 18 quilos de insectos”, acentua a empresa gestora do projecto Alqueva.

A EDIA reconhece que uma medida desta natureza “visa apoiar o agricultor no combate às pragas, diminuindo ou mesmo anulando os tratamentos específicos que são ministrados às culturas, tornando-as mais sustentáveis ambientalmente”.

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