Que futuro para o trabalho

O dinamismo da economia é fundamental para a sociedade, desde que o crescimento se reflicta nos salários. Mas nada garante que assim continue a acontecer.

O acesso e o dinamismo do mercado de trabalho são factores essenciais da dinamização económica e do desenvolvimento social. Mas tudo está a mudar, e a mudar depressa. Grande parte da industrialização está em trânsito para as economias do sul e os processos de robotização e digitalização das economias desenvolvidas estão a decorrer em ritmo acelerado. 

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O acesso e o dinamismo do mercado de trabalho são factores essenciais da dinamização económica e do desenvolvimento social. Mas tudo está a mudar, e a mudar depressa. Grande parte da industrialização está em trânsito para as economias do sul e os processos de robotização e digitalização das economias desenvolvidas estão a decorrer em ritmo acelerado. 

O desafio da economia é reduzir a desigualdade que aumentou com a globalização. Nas sociedades industrializadas os ricos ficaram mais ricos e aumentaram a distância para os pobres, reduzindo efectivamente a mobilidade social. A produtividade aumenta, o produto económico melhora, mas os salários não acompanham o custo de vida e pioram objectivamente a existência de quem trabalha. É esta contradição que a nova economia tem de resolver: com mais robotização, mais mobilidade e melhor estrutura, é fundamental que este crescimento económico se reflicta nos salários. Não é isso que tem acontecido e os sinais que têm vindo dos Estados Unidos são pouco animadores: as empresas de maior capitalização bolsista e que melhor representam a economia digital têm pouca força de trabalho e os aumentos em escala não necessitam de grande crescimento de trabalhadores. Um crescimento sem trabalho cria desafios acrescidos aos estados, que têm de encontrar outras formas de taxar este sistema económico de forma a proceder a uma redistribuição efectiva. É por isso que modelos ideológicos tradicionais já não respondem a estes desafios e é preciso pensar para lá das lógicas neoliberais. E, tal como se tem visto nos últimos anos no espaço europeu, estes problemas são transnacionais e exigem soluções continentais. É isso que tem acontecido ao nível da Comissão Europeia, quer em termos de planeamento estratégico, quer em termos de controlo das multinacionais que escapam às leis da concorrência.

Nada disto pode ser pensado de forma estanque: se as necessidades do mercado de trabalho mudam, é fundamental que também a escola mude para se adequar às necessidades – e quanto mais tarde isso acontecer pior será. A verdade é que o modelo educativo já está desajustado para o sistema de trabalho actual, e mais estará para o que aí vem. Este é um papel essencial em que os estados têm de mostrar serviço, mas em Portugal havido pouco pensamento estratégico. É urgente que isso mude.