Agora sim, doeu

A desvalorização bolsista do Facebook em Wall Street mostra que o problema dos accionistas não está na carteira. Está onde dói mais: na reputação.

Em 1912, G.C. Selden publicou The Psychology of the Stock Market (A Psicologia do Mercado de Acções), um livro que apesar de ter mais de 100 anos poderia ter sido escrito hoje. A vantagem de regressar a este pequeno livro no fim de uma semana em que Wall Street assistiu à maior desvalorização de sempre, em termos nominais, num só dia, é a de chamar a atenção para um facto tão simples e básico que muitas vezes é esquecido pela imprensa e pelas empresas, ultrapassado pela parafernália tecnológica e pela imensidão de vozes que se cruzam nas bolsas: o de que a emoção (ou a psicologia, se quisermos ser fiéis a G. C. Selden) tem uma relação com o mercado de acções mais relevante do que a pura razão dos números.

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Em 1912, G.C. Selden publicou The Psychology of the Stock Market (A Psicologia do Mercado de Acções), um livro que apesar de ter mais de 100 anos poderia ter sido escrito hoje. A vantagem de regressar a este pequeno livro no fim de uma semana em que Wall Street assistiu à maior desvalorização de sempre, em termos nominais, num só dia, é a de chamar a atenção para um facto tão simples e básico que muitas vezes é esquecido pela imprensa e pelas empresas, ultrapassado pela parafernália tecnológica e pela imensidão de vozes que se cruzam nas bolsas: o de que a emoção (ou a psicologia, se quisermos ser fiéis a G. C. Selden) tem uma relação com o mercado de acções mais relevante do que a pura razão dos números.

Aumentar

Se assim não fosse, seria difícil de explicar que o Facebook tenha perdido 120 mil milhões de dólares (equivalente a cerca de dois terços do Produto Interno Bruto de Portugal) depois de apresentar resultados que não podem, de todo, explicar este tombo de quase 20% no valor das acções da empresa. Vejamos: do lado do número de utilizadores, o Facebook ficou a 0,0009% da meta que o mercado estimava; e do lado das receitas houve um crescimento de 42% no último trimestre, ainda assim 1% abaixo do valor esperado por analistas. Neste quadro, é impensável admitir que os números ou a desaceleração prevista (lei dos rendimentos decrescentes, anyone?) expliquem uma queda tão monstruosa.

Imagina-se que tal tombo tenha doído a Zuckerberg e restantes accionistas – com perda real apenas para aqueles que cederam ao pânico e venderam. Mas não é na carteira deles que este resultado dói. Porque, numa situação normal, o Facebook recuperará o valor perdido num dia, ainda que isso demore mais tempo. Não. Isto agora doeu mesmo porque se a matemática está mais ou menos certa, o sentimento está todo errado e isso evidencia que o problema está noutro campo – no da reputação. O Facebook está mais pobre, porque se acredita cada vez menos. Na rede e em Zuckerberg, cuja porta de saída ficou mais aberta.