Ricardo e os turistas

Robles não prejudicou nenhum inquilino. Mas, sem fazer vítimas, quis enriquecer à custa do turismo.

A pergunta que eu faria a Ricardo Robles é esta: a quem é que ele queria vender o imóvel? Quem é que ele acha que seria capaz de pagar os 5,7 milhões de euros que ele pedia?

Robles configurou o imóvel para ter 11 apartamentos muito pequenos, equipados de forma a estarem logo disponíveis para short term rental. Ou seja: para turistas. O casal de idosos que lá ficou paga 160 euros por mês: uma pechincha que mostra que Robles não quis ganhar dinheiro à custa dos moradores. Beneficiou-os.

Já os turistas dispostos a pagar esses mesmos 160 euros por dia pagariam 4800 euros por esse mesmo mês. Fora as 3 lojas os 11 apartamentos poderiam dar 52800 euros por mês, caso fossem todos a 160 por dia.

Era este o objectivo de Robles: investir no turismo, à custa dos turistas, vendendo os apartamentos e lojas a quem quisesse ficar com esse negócio. Até poderia ser um senhorio português - mas um que já fosse rico, para ter os 5,7 milhões.

Robles não prejudicou nenhum inquilino. Mas, sem fazer vítimas, quis enriquecer à custa do turismo - e o turismo em Lisboa e no Porto prejudica os lisboetas (tornando muitos em ex-lisboetas) e prejudica Lisboa como cidade popular em que pobres, ricos e remediados viviam lado a lado.

Não é razão para pedir desculpa, muito menos demitir-se. Que siga com força redobrada a boa campanha que tem feito em Lisboa com o Bloco de Esquerda. Deixe é de fingir que não decidiu embarcar no gravy train do turismo no centro histórico de Lisboa. Que lhe pese na consciência.

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