Geraint Thomas, o esperado vencedor inesperado do Tour

O ciclista britânico venceu pela primeira vez a Volta a França em bicicleta, sucedendo a Chris Froome na lista de vencedores da prova.

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Geraint Thomas LUSA/SEBASTIEN NOGIER

Em 2015, meses depois do seu colega de equipa, Chris Froome, ter vencido a sua segunda Volta a França, Geraint Thomas, numa entrevista ao The Guardian, deixou escapar uma crença que o iria motivar para os anos seguintes: “Acredito definitivamente que um dia posso ganhar o Tour”. Ora, esse dia acabou por ser 29 de Julho de 2018. Thomas entrou este domingo nos Campos-Elíseos com a camisola amarela e confirmou aquela que é a sua melhor vitória da carreira.

Depois de ter liderado o Tour durante 11 etapas, Thomas dominou a Volta a França, mas nem tudo foi um mar de rosas até chegar ao topo. Terminou a etapa inaugural em 15.º na classificação geral, desceu oito posições na tirada seguinte e chegou ao último lugar do pódio na terceira etapa, depois do segundo lugar conquistado pela Team Sky no contra-relógio de equipas. Ainda desceu para quarto, mas alcançou o segundo posto na sexta etapa, onde esteve durante mais quatro tiradas, sempre atrás de Greg Van Avermaet. Vestiu a camisola amarela no 11.º dia da prova e nunca mais a despiu. A seguir, fez história no Tour ao tornar-se no primeiro líder da prova a chegar em primeiro ao Alpe d’Huez.

A vitória de Geraint Thomas marca também a sexta vez em sete oportunidades, entre o período de 2012 e 2018, que a Team Sky vence a Volta a França. Em 2012, venceu Bradley Wiggins e Chris Froome conquistou a prova quatro vezes (2013, 2015, 2016 e 2017).

À partida para a edição deste ano da Volta a França, Chris Froome era apontado como um dos favoritos à vitória. Quase ninguém esperava que Thomas ficasse à frente do ciclista que já venceu a corrida francesa em quatro ocasiões. E, à medida que o galês continuava sólido no primeiro lugar da geral, a Sky começou a questionar-se sobre se os seus esforços não deviam ser redireccionados para a vitória de Thomas, em vez de apostar no quarto triunfo consecutivo de Froome.

Geraint Thomas é uma pessoa habituada a ganhar títulos, que começaram a aparecer cedo na sua carreira, iniciada aos 11 anos na equipa Maindy Flyers, de Cardiff, a sua cidade natal. “Como sub-12, era muito bom corredor. Como sub-13, estava a conquistar medalhas nacionais. Com os sub-16, ele ganhou tudo aquilo que havia para ganhar. Como sub-18, ele foi campeão mundial na pista. Por isso, foi uma progressão todo o caminho”, disse Alan Davies, treinador de Thomas nos Flyers, à ITV Wales News. A vitória deste domingo foi uma coroação natural de um percurso vencedor.

O título na pista, conquistado em 2004 na UCI Junior Track World Championships, fez com que Thomas acreditasse que poderia chegar a um nível profissional. “Foi quando eu me quis comprometer mesmo e fazer tudo o que pudesse para lá chegar”, relembrou.

Esse compromisso implicou que o ciclista saísse de Cardiff e se mudasse para Manchester, deixando para trás família e amigos. Foi um grande sacrifício, mas já naquela altura toda a sua vida era dedicada ao ciclismo. O que aconteceu em Inglaterra é aquilo que acontece num grande número de casos de pessoas que deixam o lugar onde viveram desde nascença. “Houve muitas alturas em que quis voltar para casa, e ir a um bar com os meus amigos”, admitiu, Thomas, que não deixou que isso o demovesse do seu caminho. Qual foi a sua força para continuar? “Foi esse compromisso de querer ser melhor e de ser profissional”.

O seu percurso inclui também duas medalhas de ouro olímpicas em perseguição por equipas, conquistadas nos Jogos de 2008, em Pequim, e nos Jogos de 2012, em Londres. “Eu só sonhei em estar nos Jogos, mas nunca, num milhão de anos, achei que estaria a ganhar uma medalha de ouro, quanto mais duas. É uma loucura”, afirmou Thomas.

Quem o conhece, diz que o galês é boa pessoa e muito terra-a-terra. “Ninguém tem algo de mau a dizer sobre ele”, exclamou sir Dave Brailsford, director geral da Sky. “Quando ele está na bicicleta, faz sacrifícios, mas quando não está, é a alma da festa”. Mark Cavendish, ex-Sky, disse que estava “orgulhoso” do feito de Thomas. “É o tipo mais leal que vão conhecer. Ele é incrível. Adoro-o”, exclamou.

Agora que finalmente venceu a Volta a França, o que é que vai fazer o ciclista de 32 anos que começou a correr nas traseiras da sua casa em Cardiff? “Vou fazer uma grande festa durante algumas semanas. Talvez durante um mês”, brincou Thomas.

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