O problema de Robles

O vereador da Câmara de Lisboa comprometeu a sua legitimidade para criticar politicamente a especulação imobiliária quando esteve disposto pessoalmente a beneficiar dela.

O Jornal Económico noticiou que Ricardo Robles, vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa, colocara à venda um prédio em Alfama, adquirido à Segurança Social juntamente com a sua irmã, cuja venda lhe poderia permitir um lucro de 4,7 milhões de euros, a estimativa de lucro que resultou da avaliação de uma agência imobiliária. Na compra e reabilitação deste prédio degradado na muito rentável Alfama, Robles não despejou inquilinos, não transformou o edifício em alojamento local, não pode ser acusado de ter cometido qualquer tipo de ilegalidade susceptível de provocar a sua demissão, como pediu o PSD, não terá usufruído de qualquer favorecimento devido ao facto de ser autarca e não pode ser acusado de falta de transparência.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Jornal Económico noticiou que Ricardo Robles, vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa, colocara à venda um prédio em Alfama, adquirido à Segurança Social juntamente com a sua irmã, cuja venda lhe poderia permitir um lucro de 4,7 milhões de euros, a estimativa de lucro que resultou da avaliação de uma agência imobiliária. Na compra e reabilitação deste prédio degradado na muito rentável Alfama, Robles não despejou inquilinos, não transformou o edifício em alojamento local, não pode ser acusado de ter cometido qualquer tipo de ilegalidade susceptível de provocar a sua demissão, como pediu o PSD, não terá usufruído de qualquer favorecimento devido ao facto de ser autarca e não pode ser acusado de falta de transparência.

O problema de Ricardo Robles com este caso não é esse. Nada o impede de continuar a batalhar contra os despejos — 4300 no Porto e em Lisboa nos últimos cinco anos — nem de continuar a exigir a mudança da chamada “Lei Cristas”. Nada impede um anticapitalista de lucrar com o mercado imobiliário ou de apreciar caviar. Depende da consciência, do gosto e da coerência de cada um. O problema de Robles é que só não vendeu o prédio em questão porque não encontrou comprador durante os seis meses em que o colocou à venda, o que faria dele um agente especulativo. O problema de Robles é ter perdido legitimidade para continuar a dizer que a Câmara de Lisboa “se transformou numa agência imobiliária que contribui para a especulação na cidade mas que não dá nenhum contributo para resolver o problema da habitação” ou que o “promotor quando faz uma obra sabe” que “tem uma responsabilidade sobre a habitação em Lisboa”. E isso Robles tinha obrigação de saber.

No tempo de antena da última segunda-feira, Catarina Martins criticava a multiplicação desregulada de alojamentos locais, que tem provocado a expulsão dos moradores, lembrava o que o BE já fez nesta matéria e terminava a dizer que é inaceitável que os centros das cidades se transformem num condomínio de luxo. Os objectivos do BE, que tem feito da especulação imobiliária um tema de intervenção política, como aconteceu nas últimas autárquicas, são claros: parar os despejos, mudar a lei, combater a especulação. O vereador comprometeu a sua legitimidade para criticar politicamente a especulação imobiliária como sempre o fez quando esteve disposto pessoalmente a beneficiar dela.