Migrações, hipernacionalismos e "Brexit" na visita de Marcelo à Áustria

Presidente luso e primeira-ministra britânica conversaram a pedido desta no intervalo d'A Flauta Mágica em Salzburgo.

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May pediu um breve encontro com Marcelo no intervalo da ópera DR/Presidência da República

Marcelo Rebelo de Sousa foi o convidado de honra do Presidente da República da Áustria para a abertura do festival de música de Salzburgo, mas foi a política que marcou esta sua breve visita ao país. As migrações e os refugiados, que têm marcado a actual presidência austríaca da UE, estiveram sempre presentes nas conversas entre Alexander van der Bellen e Marcelo, que na sua intervenção no acto oficial de abertura do festival deixou votos de que esta presidência seja pró-europeia. E acabou por ser o "Brexit" a marcar-lhe a agenda.

O chefe de Estado foi surpreendido por um convite da primeira-ministra britânica para um breve encontro no intervalo da ópera A Flauta Mágica, de Mozart. Theresa May era uma das convidadas do chanceler conservador Sebastian Kurz, que lidera um Governo no qual participa a extrema-direita, para a abertura do festival. No encontro, May disse a Marcelo Rebelo de Sousa que as negociações do "Brexit" estavam a correr bem e que as relações com o Governo português eram as melhores e que se mantinham as melhores ao longo de todas estas negociações, apurou o PÚBLICO.

Já antes Marcelo e May tinham estado juntos no acto oficial de abertura do festival, um acto “muito político”, como disse o próprio chefe de Estado aos jornalistas, relatando que houve "discursos muito fortes pela Europa, pelos valores europeus, pelos direitos humanos, pelo significado da Europa, contra a xenofobia, contra o hipernacionalismo".

"O Presidente austríaco chegou a citar, a certa altura no seu discurso, o tempo de Hitler, para recordar que na altura havia democracia mas não havia democratas e agora é preciso que haja Europa e europeus e que se lute pelos valores", contou Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela Lusa. O chefe de Estado português disse ter-se limitado a ouvir e registar que "há verdadeiramente uma posição vital muito forte, que começa no Presidente e percorre a opinião pública no sentido de esta presidência austríaca [da União Eurpeia] só poder ser pró-europeísta". "Espero que assim seja", vincou.

Por várias vezes nesta visita, o tema das migrações e dos refugiados marcou presença. Alexander van der Bellen, um político de esquerda aberto ao acolhimento de migrantes e refugiados num país com um Governo anti-imigração, aproveitou uma das ocasiões para agradecer a Portugal a ajuda prestada a milhares de austríacos antes e durante a II Guerra Mundial, desde logo no acolhimento de mais de cinco mil crianças após o conflito.

Desde que chegou a Salzburgo, na quinta-feira, que Marcelo Rebelo de Sousa quis salientar a proximidade com o presidente austríaco, como quando o cumprimentou pela afirmação dos direitos humanos no acto oficial de abertura do festival. "Mostrou a coragem, a força, a inteligência, a defender a Europa, explicando como e porquê é impossível ter Europa sem pró-europeus, ou seja, sem cidadãos que partilhem os valores e os princípios da Europa, como é impossível haver democracia sem democratas", declarou o chefe de Estado.

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