Vereador bloquista pôs à venda imóvel em Alfama com valorização de 4,7 milhões

Ricardo Robles comprou com a irmã um prédio degradado em Junho de 2014 , com cinco contratos de arrendamento activos. Entre aquisição e obras, gastou cerca de um milhão de euros. O prédio foi colocado à venda por 5,7 milhões — e o vereador diz que "não há contradição" com a sua luta contra a especulação imobiliária

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Ricardo Lopes

Um velho edifício de três pisos numa rua de Alfama, em Lisboa, foi comprado em Março de 2017 por 347 mil euros. Tinham, então, cinco contratos de arrendamento activos: um escritório, uma habitação e três lojas. O proprietário investiu 650 mil em projectos, licenças e respectivas obras de requalificação, e o edifício foi colocado, de novo, à venda, agora através de uma imobiliária de luxo e com uma avaliação de 5,7 milhões de euros. Nada nesta transacção seria notícia, não fora o caso de um dos proprietários em causa ser o vereador do Bloco de Esquerda da câmara de Lisboa, Ricardo Robles, e que tem acusado o executivo que integra de ser um “promotor da especulação imobiliária”.

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Um velho edifício de três pisos numa rua de Alfama, em Lisboa, foi comprado em Março de 2017 por 347 mil euros. Tinham, então, cinco contratos de arrendamento activos: um escritório, uma habitação e três lojas. O proprietário investiu 650 mil em projectos, licenças e respectivas obras de requalificação, e o edifício foi colocado, de novo, à venda, agora através de uma imobiliária de luxo e com uma avaliação de 5,7 milhões de euros. Nada nesta transacção seria notícia, não fora o caso de um dos proprietários em causa ser o vereador do Bloco de Esquerda da câmara de Lisboa, Ricardo Robles, e que tem acusado o executivo que integra de ser um “promotor da especulação imobiliária”.

A notícia foi avançada esta sexta-feira pelo semanário O Jornal Económico, e já confirmada pelo próprio vereador nas redes sociais, onde se tem empenhado em tornar público todos os esclarecimentos que prestou aos jornalistas acerca desta historia e onde argumenta que a sua conduta como co-proprietário do edifício (comprado a meias com a irmã) “em nada diminui a legitimidade das [suas] propostas para parar os despejos, construir mais habitação pública e garantir o direito à cidade”.

Ricardo Robles e a irmã compraram à Segurança Social um edifício de três pisos, situado na Rua do Terreiro do Trigo, muito perto do Museu do Fado. É o próprio vereador quem esclarece que entre aquisição, projectos, licenças e obra, o investimento ascendeu a um milhão de euros, financiado pela família do vereador e através de um empréstimo bancário contraído junto da CGD. “Como co-proprietário, aceitei que, por razões familiares, o prédio fosse colocado à venda. A venda do prédio foi entregue no final do ano de 2017 à imobiliária, que o avaliou em 5,7 milhões de euros. O prédio não foi vendido e foi retirado do mercado, embora mantenhamos a intenção de venda a breve trecho”, diz Ricardo Robles

O vereador bloquista recusa a acusação de ter despejado inquilinos, e diz tê-los contactado para comunicar a intenção de manutenção dos respectivos contratos. Entre pagamentos de indemnizações e contratos para celebração de novas rendas, ainda está a ser discutida em tribunal a situação de um dos inquilinos, que recusou uma actualização de renda de 270 para 400 euros, e pede uma indemnização de 120 mil euros pelas benfeitorias realizadas. Robles justifica-se dizendo que o valor proposto de 400 euros “está abaixo do que a lei Cristas permitiria fazer e dos preços de mercado para um estabelecimento de restauração em Lisboa e em particular naquela zona”.

Questionado pelo Económico acerca da contradição que existirá entre o seu comportamento enquanto investidor e proprietário e as acções públicas contra os despejos que tem vindo a protagonizar, Robles insiste que não há qualquer contradição. “O programa eleitoral que apresentei à CML é claro na defesa do direito à habitação e de oposição aos despejos. O [único] casal que vive neste imóvel nunca viu o seu direito à habitação posto em causa. Pelo contrário, viu a sua situação regularizada com um novo contrato, cujo valor de renda, prazo e restantes termos acordou previamente. (…) A necessidade de realizar obras profundas de reabilitação do prédio, inclusivamente no interior das fracções, implicou a libertação temporária dos espaços, que foi acordada com os inquilinos”, terminou.