Brasão raro japonês já tem réplica em tamanho real no Palácio da Bolsa

Depois de décadas escondidos no Pátio das Nações, no Palácio da Bolsa, o brasão do Xogunato de Tokugawa e da monarquia portuguesa estão agora à vista de todos.

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Os brasões já podem ser vistos nas visitas guiadas ao Palácio da Bolsa. Manuel Roberto

O restauro do Palácio da Bolsa, entre Agosto de 2014 e Fevereiro de 2015, foi brindado com uma surpresa. Sob um dos brasões do Pátio das Nações, seis especialistas encontraram o símbolo do xogunato japonês, agora finalmente replicado e exposto junto à escadaria principal. Um outro brasão, desta feita português, foi revelado e nele constava, sem surpresas, o símbolo da monarquia, substituído após a implantação da República. Ambos os brasões, originalmente pintados na cúpula envidraçada da autoria de Tomás Soller, integram agora o itinerário das visitas guiadas naquele local.

A existência “de um relevo diferente” no brasão de Saxe (na actual Alemanha) despertou a atenção da equipa, em meados de 2014. “Começamos a desenhar com giz todos os traços que nos apareciam à luz rasante e depois de estar tudo desenhado, afastamo-nos e descobrimos um símbolo completamente novo”, recorda a arquitecta Teresa Carrilho Ferreira, responsável pelo restauro do Pátio das Nações.

Quatro anos depois, a origem do símbolo continua a não ser clara. E a verdade é que o período coincidente entre o início dos trabalhos no interior do Palácio da Bolsa, em 1860, e o fim da ditadura feudal japonesa, em 1868, é curto. Miguel Pinto Maria, director executivo da Associação Comercial do Porto, aponta como possível justificação a presença de uma vasta delegação japonesa na Exposição Internacional do Porto, que teve lugar no Palácio de Cristal, em 1865.

As réplicas, douradas a folha de ouro e pintadas a óleo, apresentam 2,5 metros de largura e 3 metros de comprimento, à semelhança dos 20 brasões que compõem a cobertura e representam as nações com as quais Portugal, e o Porto em particular, mantinham relações comerciais no século XIX.

Ainda que os trabalhos tenham arrancado no primeiro trimestre de 2015, a procura de um material de suporte resistente, leve e com relativa elasticidade obrigou a sucessivos testes, estendendo-se por longos meses. Também a escala foi um obstáculo para a equipa, que, admite, teve a sorte de trabalhar numa sala com um pé direito alto. “A maior parte do trabalho foi feita deitada e isso é muito complicado. Só quando o levantávamos conseguíamos afastar-nos e ser críticos do que estávamos a fazer e melhorar”, acrescenta Teresa Carrilho Ferreira, que estima cinco meses para a duração do trabalho, fosse ele somado ao longo do tempo.

É precisamente nos brasões, expostos nos claustros junto à Escadaria Nobre, que termina a visita guiada ao Palácio da Bolsa. Mas os turistas ficam curiosos desde o momento que entram no Pátio das Nações e os avistam ao longe. “A primeira pergunta é porquê estarem ali. Percebem que resultam do Pátio das Nações e ficam muito interessados em ouvir a explicação, mas também surpresos por nem a associação ter registos do símbolo do Xogunato”, afirma.

De ano para ano, a Associação Comercial do Porto tem vindo a proporcionar aos visitantes novos espaços e atracções, como o gabinete de Gustave Eiffel, a sala do telégrafo ou a galeria dos antigos presidentes da associação.

Texto editado por Ana Fernandes

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