A estudante sueca que evitou a deportação de um afegão para o “inferno”

Elin Ersson entrou num voo onde sabia estar um afegão a ser deportado. E não se sentou enquanto não deixaram o homem de 52 anos sair.

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Elin Ersson tem 21 anos e é estudante DR

"Não me sento enquanto esta pessoa não sair do avião." Elin Ersson comprou um bilhete para a ligação aérea entre Gotemburgo, na Suécia, e a Turquia quando descobriu que naquele voo, no dia 23 de Julho, estaria um homem afegão de 52 anos a ser deportado. Entrou no avião, recusou-se a sentar — sabendo que o piloto não pode levantar voo dessa forma — e começou a transmitir em directo para o Facebook. Só parou quando deixaram o homem abandonar o aparelho.

A acção de Elin Ersson — que se apresenta na sua página do Facebook como uma estudante de 21 anos, activista de uma associação que procura precisamente parar as deportações para o Afeganistão — deixou os passageiros do mesmo avião divididos: enquanto alguns a criticavam, outros aplaudiam e juntavam-se a ela no protesto. 

Perante a irritação de um dos passageiros, que a confronta com as consequências da atitude dela, a estudante responde-lhe: “O que é que é mais importante? Uma vida ou o seu tempo?” O homem, britânico segundo o relato de Elin, tenta desligar o telefone da activista, mas sem sucesso. “Não quero que um homem morra só porque você não quer perder o seu voo", afirmou. 

Emocionada, Elin Ersson continua: "Quero que ele saia do avião porque não está seguro no Afeganistão”. E quando confrontada com as leis, não hesita na resposta: “Estou a tentar mudar as leis do meu país, não gosto delas. Não está certo mandar as pessoas para o inferno."

A estudante vai relatando o que está a acontecer a bordo mantendo a câmara virada para a sua cara, uma vez que prefere não filmar os restantes passageiros sem a autorização deles. Um homem turco ajuda-a, justificando a sua acção, algumas pessoas aplaudem, uma equipa de futebol permanece em pé. No Facebook, o vídeo tem mais de dois milhões de visualizações.

Ao fim de algum tempo, o objectivo é conseguido. O homem afegão é retirado do avião e acompanhado por três seguranças e Elin Ersson. Segundo o The Guardian, há meios de comunicação suecos a dizer que o afegão está entretanto desaparecido, mas o site Deutsche Welle relata que o homem está sob custódia e será deportado mais tarde.

As deportações tornaram-se assunto controverso na Suécia desde os atentados de Janeiro em Cabul, onde mais de uma centena de pessoas morreram. Nessa altura, a Suécia suspendeu as deportações para o Afeganistão. Mas, na prática, elas continuam a acontecer, já que as autoridades locais alegam que o país é seguro.

De acordo com a ONU, o número de civis mortos no Afeganistão atingiu um novo recorde no primeiro semestre deste ano, apesar do cessar-fogo de Junho. Entre 1 de Janeiro e 30 de Junho, foram contabilizadas 1692 mortes, metade das quais atribuídas a ataques do grupo Daesh, o número mais elevado desde que a ONU começou, há uma década, a contar as baixas civis no país.

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