Gravação sugere que Trump sabia de pagamento para abafar história da Playboy

Pode ter havido violação das leis sobre o uso de verbas para as campanhas. Divulgação da gravação aprofunda conflito entre Presidente e o seu antigo advogado, que vai ser julgado.

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Reuters/Jonathan Ernst

Foi divulgada a gravação de uma conversa entre Donald Trump e o seu antigo advogado, Michael Cohen, que teve lugar dois meses antes das eleições presidenciais de 2016. O áudio obtido pela CNN aprofunda não só o conflito entre Cohen e o actual Presidente mas também sugere que este sabia do acordo para um pagamento com o objectivo de abafar uma notícia sobre um antigo caso entre Trump e uma antiga modelo da Playboy.

Trump já reagiu dizendo estar "triste" por o seu advogado de longa data ter gravado conversas privadas entre os dois e sugeriu que a gravação foi manipulada para excluir "coisas positivas" que estava a dizer.

O que é dito na gravação transmitida pela CNN, e cuja existência foi noticiada na semana passada, é muitas vezes imperceptível devido a conversas paralelas. Mas é possível escutar o então advogado de Trump a afirmar que terá de criar uma empresa para realizar os pagamentos: “Preciso de abrir uma empresa para as transferências todas sobre aquela informação relativa ao nosso amigo David”.

Ao que tudo indica, Cohen refere-se aqui a David Pecker, líder da empresa American Media, que é dona do tablóide National Enquirer, que pagou a Karen McDougal, antiga modelo da Playboy, 150 mil dólares em 2016 para adquirir os direitos da história do seu caso com Trump, ocorrido em 2006. O Enquirer nunca chegou a publicar a notícia.

De acordo com o que tem sido noticiado nos Estados Unidos, com os jornais a citarem fontes próximas de Cohen e Trump, ambos estavam a discutir na gravação o pagamento dos direitos sobre esta história à empresa detentora do tablóide.

“Quais pagamentos?”, questiona o então candidato presidencial republicano. “Vamos ter de pagar”, responde Cohen. Depois, Trump parece dizer “paga com dinheiro”. “Não, não”, diz o advogado em resposta. A palavra “cheque” é neste momento pronunciada, mas não é claro por quem, sendo que a gravação é abruptamente interrompida.

Esta gravação parece confirmar pelo menos uma coisa: que a campanha de Trump mentiu quando garantiu, a poucos dias das eleições, em Novembro de 2016, que o agora Presidente não tinha conhecimento de qualquer acordo para pagar a Karen McDougal ou a David Pecker, tal como havia sido noticiado na altura.

Por outro lado, o que não é possível confirmar na conversa é se o pagamento foi de facto realizado. A ter acontecido, isto pode constituir uma violação das leis sobre o uso de verbas para as campanhas eleitorais – aspecto mais relevante em toda esta polémica.

O actual advogado de Trump, “Rudy” Giuliani, antigo presidente da Câmara de Nova Iorque, nega que tenha existido pagamento algum.

Cohen passou a ser alvo de uma investigação do FBI por suspeitas de violação das leis de financiamento das campanhas eleitorais, lavagem de dinheiro e fraude bancária e fiscal na sequência de notícias sobre o pagamento para abafar outro caso entre o Presidente e a actriz pornográfica Stormy Daniels (nome verdadeiro: Stephanie Clifford). O inquérito motivou buscas no escritório do advogado, onde foram apreendidas 12 gravações áudio, entre as quais a agora divulgada.

Em causa estão os pagamentos para silenciarem estas mulheres para não prejudicar Trump. Estas transacções, a confirmarem-se, são contribuições individuais no âmbito da campanha e por valores superiores aos permitidos pela lei de financiamento das campanhas nestes casos.

A divulgação da gravação vem também confirmar a degradação da relação entre Cohen e Trump, antes muito próximos. Esta foi entregue agora à CNN pela mão de Lanny Davis, advogado de Cohen. Ou seja, esta situação parece confirmar que o antigo advogado do Presidente está disposto a cooperar totalmente com a investigação.

Outrora um seguidor fiel de Trump, Cohen afastou-se do círculo de confiança do Presidente em Abril. De acordo com o que é relatado pelos media norte-americanos, Cohen teve como função durante a campanha presidencial abafar notícias potencialmente prejudiciais para o então candidato. 

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