Especialistas querem projectos hidráulicos no Laos escrutinados

Colapso de barragem deixou desalojadas milhares de pessoas e matou pelo menos 28 (há 130 desaparecidas). Famílias já tinham sido desalojadas quando se iniciou a construção de barragem.

Foto
Pessoas em Sanam Xay a caminhar sobre as áreas inundadas Reuters/SOCIAL MEDIA

Mais de 3000 pessoas necessitam de ser resgatadas depois do colapso de uma barragem que estava em construção no Laos, que matou pelo menos 26 pessoas - mais de 130 estão desaparecidas.

Outras 2800 pessoas já foram retiradas. As organizações não governamentais e os especialistas pediram que os projectos hidráulicos no país fossem todos avaliados.

O desastre ocorreu na noite de segunda-feira, na província de Attapeu, numa zona remota do Sul do país, e provocou inundações repentinas em pelo menos sete aldeias.

“Muitas das pessoas afectadas pelo colapso da barragem já tinham sido desalojadas ou sido vítimas de outro tipo de impacto por causa da construção”, disse Maureen Harris, do grupo International Rivers. “Esta tragédia agravou o sofrimento deles e pôs em evidência os riscos de segurança, isto para não falar do impacto social e ambiental”, acrescentou.

O Governo do Laos está a apostar num programa de barragens ambicioso de modo para atrair investimento estrangeiro ao país que se quer tornar "o gerador da Ásia”.

A barragem que colapsou faz parte do projecto hidroeléctrico Xe-Pian Xe-Namnoy. Mais de 2300 pessoas foram realojadas para construir o reservatório, cerca de 8700 forem afectadas pelo projecto, de acordo com estimativas da empresa feitas em 2013.

Há mais uma dúzia de barragens planeadas com investidores estrangeiros, incluindo empresas tailandesas, sul-coreanas e chinesas e o contrato especifica que o objectivo é o Laos exportar electricidade para os seus vizinhos.

Há elevados custos ambientais e sociais para as comunidades locais neste plano, disse Micah Ingalls, do Centro de Desenvolvimento e Ambiente da Universidade de Bern de Vientiane, a capital do Laos. O controlo das construções e a monitorização social e ambiental destes projectos é inadequado, disse. “As agências governamentais locais e as comunidades que vêm o seu impacto estão pouco envolvidas no que se passa”, acrescentou à Reuters.

As equipas estatais têm frequentemente pouco dinheiro e pouca capacidade para fazer um acompanhamento adequado e por isso dependem em muito da experiência dos investidores das barragens, acrescentou.

Grupos ambientais avisaram repetidamente as autoridades sobre os custos humanos e ambientais da rápida construção da barragem, incluindo os danos ao já frágil ecossistema dos rios da região.

O grupo de trabalho das Nações Unidas para os Direitos Humanos e Negócios já pediu aos países mais ricos da região para garantirem as boas práticas neste tipo de operações. Mas, apesar de os padrões estarem definidos no papel, há pouco controlo e acesso limitado a tribunais ou a outro mecanismo de sanções quando as violações ocorrem, disse Haris. “O ritmo a que estes projectos estão a ser construídos não é sustentável”.

“Esperamos que esta tragédia force uma pausa na construção de projectos de barragem e crie pensamento crítico sobre como e se de facto têm que ser feitos”, acrescentou Haris.

Sugerir correcção
Comentar