Famalicão, o oásis do circo contemporâneo em solo nacional

O festival de circo Vaudeville Rendez-Vous vai andar por Braga, Guimarães e Famalicão e realça a aposta do norte nas artes circenses.

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O Festival Internacional Vaudeville Rendez-vous inicia nesta quarta-feira a sua quinta edição, do Instituto Nacional de Artes do Circo (INAC) acaba de sair a primeira fornada de alunos formados e, em Setembro, nasce o primeiro curso profissional de circo da região norte do país. Tudo isto em Famalicão, a cidade que se tem apaixonado pelo circo contemporâneo português.

Bruno Martins, director do novo curso profissional, professor no INAC e director artístico do Vaudeville Rendez-vous, sente que já consegue vislumbrar algum futuro na criação própria e nacional de artistas de circo que se formam em Portugal. E sentiu-o ao assistir ao solo final dos alunos do instituto de Famalicão: “Fiquei mesmo muito surpreendido pela capacidade de criação que desenvolveram ao longo dos dois anos do curso. O que acontecia até agora era que a maior parte dos alunos que queriam prosseguir academicamente no circo tinham de ir para o estrangeiro estudar. Neste momento, já é possível adquirir um grau mais avançado a nível técnico e artístico em Portugal e consegues fixar alguns artistas para que possam desenvolver o seu trabalho cá.”

Carolina Vasconcelos, de 19 anos, e Ariana Silva, de 26, fazem parte da primeira fornada de alunos saídos do INAC (que arrancou em 2016 na Maia e que, pouco depois, se mudou para Famalicão). Depois de fazerem o curso no Chapitô, migraram para o norte, porque queriam especializar-se antes de se aventurarem no ensino superior de circo, que só existe fora do país. Carolina apaixonou-se pela roda cyr e Ariana já não se vê sem as claves de malabares suspensas no ar.

Os próximos passos das artistas vão ser dados em conjunto – e em solo nacional. Querem criar um espectáculo a dois, partindo dos temas que trabalharam no solo de final do ano. No espectáculo que aí vem, e que gostariam de ver apresentado na próxima edição do Vaudeville, querem abordar a questão feminina – a mulher, a fertilidade, a maternidade. Ainda é um projecto em aberto, mas é o que as vai manter ocupadas no próximo ano.

Essa não é, no entanto, a única prioridade. Carolina vai tentar fazer audições para escolas superiores de circo lá fora, esperando ficar em França, “o país onde é mais fácil viver como artista.” Ariana, vê a Alemanha como uma das opções, mas, até lá, como muitos dos seus colegas, continua a trabalhar em vários part-time para sustentar o sonho. “Quero mesmo fazer circo de autor, criar, encenar, ser encenada. Nesta primeira fornada de alunos do INAC, estamos todos frescos, com energia, queremos fazer. Mas não temos grandes soluções cá, porque não há grandes apoios”, adianta.

Apesar disso, o norte tem dado o exemplo a todo o país, afirma Carolina, estando “muito mais desenvolvido do que Lisboa, em áreas como a dança, o teatro e o circo.” Segundo Bruno Martins, esta dinâmica começou com a criação do Vaudeville Rendez-vous, organizado pelo Teatro Didascália em Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão, que deu a conhecer o circo contemporâneo ao grande público. Depois houve “vontade política” destas três cidades de apostarem nesta área e sítios como a Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, o Centro Cultural Vila Flor e o Theatro Circo começaram a incluir o circo na programação regular.

No próximo ano lectivo, Famalicão vai abrir portas aos aspirantes a artistas mais jovens. Até agora, todos os alunos que terminavam o 9.º ano e queriam prosseguir os estudos numa escola de circo só podiam fazê-lo indo para o Chapitô, em Lisboa. A partir deste ano, podem optar pelo norte e pelo novo curso profissional da ACE – Academia Contemporânea do Espectáculo, em Famalicão, que funciona em parceria com o INAC.

Hugo voltou depois de 14 anos na Inglaterra

O facto de Portugal “estar num ponto de transição [positiva] no campo artístico” foi um dos motivos que fez o artista Hugo Oliveira voltar. Tem agora 37 anos e é especializado em malabarismo e teatro físico, entrou no mundo do circo no início do milénio. Foi para Inglaterra em busca de novas oportunidades de aprendizagem e acabou por lá ficar 14 anos.

Há um ano sentiu que estava na altura de voltar ao país-natal. Agora é professor no INAC e está a trabalhar em novos espectáculos, como o Kadok, da companhia Oliveira & Bachtler, que fundou em conjunto com Sage Bachtler Cushman. O espectáculo é uma das estreias absolutas do Vaudeville e vai ser apresentado pela primeira vez no na quinta-feira, às 22h, no Largo Condessa do Juncal em Guimarães.

Para lá deste espectáculo, Bruno Martins destaca o Arquétipo – acto III, da companhia Radar 360º, que se estreia também na quinta-feira na Avenida Central de Braga, pelas 19h e, ainda, o Esboço para Paraísos, o projecto de final do ano dos alunos do 1.º ano do INAC, apresentado pela primeira vez no mesmo dia, às 22h, na Praça Dona Maria II em Famalicão. O festival inaugura-se hoje às 22h, no Rossio da Sé em Braga, com o espectáculo Somos e continua até 28 de Julho, com 21 apresentações nas três cidades do norte.

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