Petição entra na AR para salvar milhares de vidas por ano

Em Portugal, mais de 10 mil pessoas morrem por ano de paragem cardiorrespiratória fora do meio hospitalar, segundo o responsável pelo "Movimento Salvar Mais Vidas".

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A taxa de sobrevivência a uma paragem cardiorrespiratória fora do hospital em Portugal é de 3% NUNO FERREIRA SANTOS/arquivo

Tornar obrigatória formação sobre paragem cardiorrespiratória nas escolas e junto de algumas profissões são propostas de uma petição que é entregue nesta terça-feira na Assembleia da República e que poderiam salvar milhares de pessoas por ano, segundo os subscritores.

A petição "A reanimação cardíaca é um direito de todos nós", conseguiu recolher mais de 7.000 assinaturas, numa iniciativa do "Movimento Salvar Mais Vidas", um movimento cívico fundado pelo fisioterapeuta Gabriel Boavida e que tem o apoio de médicos, mas também de figuras públicas nacionais. Em declarações à Agência Lusa, o responsável salientou que "as paragens cardiorrespiratórias são a principal causa de morte em Portugal fora do meio hospitalar", mais de 10 mil pessoas por ano, mais de uma morte por hora, "mais do que as mortes que acontecem nas situações de sinistralidade rodoviária". E muitas dessas mortes, disse Gabriel Boavida, podiam ser evitadas.

"Em Portugal a taxa de sobrevivência (a uma paragem cardiorrespiratória) fora do meio hospitalar é das mais baixas da Europa. Estamos a falar de 3% que chegam com vida ao hospital", frisou, acrescentando que sobrevivem (saem do hospital) "menos de 2%". Noutros países a Europa a taxa de sobrevivência oscila entre os 20% e os 30%. Tal diferença não tem a ver, fez questão de reafirmar o responsável, com "maus cuidados por parte das equipas de emergência nem dos hospitais", apenas com "a sociedade civil não estar preparada".

"A sociedade civil é o primeiro elo da cadeia de socorro, é preciso que esteja preparada para identificar o que é uma paragem cardiorrespiratória, saber comunicar isso ao 112 e iniciar o suporte de vida e se for caso disso fazer a desfibrilhação", disse. É que, alertou, ao fim de cinco minutos de uma paragem cardiorrespiratória, se nada for feito, a hipótese de sobrevivência "vai diminuindo 20% a cada minuto que passa, o que significa que ao fim de 10 minutos já não é compatível com a vida". E 10 minutos é o tempo que demoram as equipas de emergência médica.

Por isso, e porque o "Movimento Salvar Mais Vidas" tem a missão de alertar e mobilizar a sociedade civil e "participar na solução", é apresentada nesta terça-feira a petição no Parlamento, que quer que "o suporte básico de vida seja realidade nas escolas" e que exista uma lei que "faça com que esse ensino seja obrigatório a todos os alunos do 12.º ano". E depois, ainda nas palavras de Gabriel Boavida, é preciso que algumas profissões tenham essa formação obrigatória, a começar por profissionais de saúde, que muitos não a têm, mas também todos os bombeiros, os polícias e guardas, seguranças de empresas privadas, nadadores salvadores, treinadores e professores.

A petição propõe ainda que sejam feitas campanhas de sensibilização e de alerta para "o problema de saúde pública" e a disseminação de desfibrilhadores em locais com grande número de pessoas e locais como recintos desportivos e ginásios. Se as pessoas compreenderem que estão perante uma paragem cardiorrespiratória, se o souberem comunicar ao 112 (número de emergência) e se souberem iniciar as manobras de compressão cardíaca podem salvar-se muitas vidas, disse o responsável, citando um exemplo muito recente de uma escola em Sintra onde uma professora que tinha tido essa formação salvou uma aluna. "Se passássemos de uma taxa de 3% para 30% estamos a falar de 2.700 vidas salvas", disse Gabriel Boavida. É que "se não fizermos nada a alguém com paragem cardiorrespiratória estamos a condená-lo à morte". E "há muitas vidas que estão por salvar".

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