Deputado municipal recusa acusação de xenofobia no caso dos romenos

Associação SOS Racismo apresentou queixa contra Antonio David Ribeiro, eleito pelo movimento de Rui Moreira. O texto em causa, sobre grupo de cidadãos romenos, foi entretanto, apagado do Facebook.

Foto
Fernando Veludo / Arquivo

O deputado municipal do Porto, António David Ribeiro, acusado de ser “xenófobo” e de estar a “incitar o ódio", por ter chamado “energúmenos” e “ciganos romenos” a um grupo de cidadãos que pernoitava há meses num terreno, junto à sua residência, na Boavista, refuta as acusações da associação SOS Racismo e diz que denunciou o caso por “uma questão de cidadania”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O deputado municipal do Porto, António David Ribeiro, acusado de ser “xenófobo” e de estar a “incitar o ódio", por ter chamado “energúmenos” e “ciganos romenos” a um grupo de cidadãos que pernoitava há meses num terreno, junto à sua residência, na Boavista, refuta as acusações da associação SOS Racismo e diz que denunciou o caso por “uma questão de cidadania”.

“Quem me conhece sabe muito bem qual é o meu passado”, afirma o deputado municipal, eleito pela lista do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, com a convicção de que o texto que escreveu no Facebook a denunciar o que se estava a passar “não tem nenhuma atitude xenófoba, racista ou de incitamento ao ódio”.

A associação SOS Racismo foi alertada no domingo para o texto que o deputado do Porto publicou nesse mesmo dia e que atribuía a um conjunto de “ciganos romenos” a ocupação indevida de um terreno na zona da Boavista, onde se dedicariam a crimes de furto e perturbação de ordem pública”.

Ao PÚBLICO, António David Ribeiro contou que aquele grupo de 20 a 30 pessoas aparecia por volta das 20h para dormir, ocupando o terreno que pertence à empresa Metro do Porto e que de manhã desaparecia, deixando um rasto de lixo no local. Como na zona não existem casas de banho públicas, o deputado revela que as pessoas usavam a zona de acesso a uma garagem para fazerem as suas necessidades.

Reformado e com 67 anos, o deputado explicou que do apartamento (num 8.º andar) onde habita tinha uma perspectiva geral dos movimentos que aquele grupo de cidadãos fazia no triângulo formado pela Avenida da França, Rua Domingos Sequeira e Rua General Norton de Matos. Acrescenta que o que lhe causava verdadeiramente estranheza eram os carros de gama alta que, por vezes, apareciam por ali já depois de o grupo estar instalado. Segundo relatou, as pessoas que seguiam nesses carros ostentavam ouro.

Eleito pela primeira vez deputado municipal em 2017, David Ribeiro (como diz ser conhecido) entende que, perante estas circunstâncias, tinha de fazer alguma coisa, mas afirma que nunca pensou que a sua posição gerasse tanta polémica. Seja como for, a publicação foi, entretanto, eliminada.

A associação SOS Racismo “apela que se retirem todas as consequências de afirmações discriminatórias e discursos de ódio, accionando mecanismos proporcionais à gravidade de tais actos quando cometidos por agentes políticos”. Em comunicado, a organização considera ainda que “é particularmente grave que um responsável autárquico, com funções de representação do povo que o elegeu, difunda e torne públicas mensagens de natureza discriminatória, em afirmações pontuadas por preconceitos e por insultos”.

“Já após a eliminação por denúncia do referido texto”, a SOS Racismo revela que o deputado “insiste na culpabilização de quem o denuncia, revelando complacência com comentários de índole racista, sexista e violenta”.

Nuno Silva, da direcção da SOS Racismo, disse ao PÚBLICO que a associação apresentou queixa contra o deputado na Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racional, a única entidade com competência para apreciar estes casos.

David Ribeiro conta que, depois de uma ida da PSP ao terreno em causa, na quarta-feira, os cidadãos romenos abandonaram o local. Mas ao princípio da noite desta segunda-feira já se viam pessoas deste grupo de volta ao terreno.