Adalberto Campos Fernandes quer mais exemplos como o de Manuel Antunes no SNS

O médico-cirurgião retirou-se do Serviço Nacional de Saúde, ao atingir a idade limite de 70 anos.

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Sérgio Azenha

O ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes elogiou o professor e cirurgião Manuel Antunes, reforçando a vontade de trazer mais pessoas para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) que sigam o seu exemplo. Nesta sexta-feira, na última lição do médico especialista em cirurgia cardio-torácica, que se afasta do serviço público por ter atingido os 70 anos, Campos Fernandes recorreu a um neologismo: “manuelantunizar”. É esse processo que deve ser aplicado ao SNS, defendeu o governante, trazendo para o sistema pessoas “com capacidade de liderar, com coragem, com seriedade dos propósitos, com capacidade de serem reconhecidos como exemplo e com aquela pontinha de mau feitio que o líder tem que ter".

Nesta sexta-feira, no auditório do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, as intervenções que decorreram antes da última lição do médico salientaram, entre outros aspectos, o seu profissionalismo e combate ao desperdício. “Temos de ser capazes de perceber que os recursos públicos são muito escassos, particularmente em países que têm dificuldades como o nosso”, referiu Campos Fernandes, recorrendo mais uma vez ao exemplo de Manuel Antunes para afirmar que o combate ao desperdício significa ter “sentido de respeito por recursos que não são nossos, são dos outros”.

O responsável pela pasta da Saúde assegurou que, apesar de o médico não continuar no serviço público, tal não impede o ministro de continuar a pedir-lhe contributos. “Não o vamos deixar em paz”, referiu.

Manuel Antunes começou por avisar que na lição com o título “Uma vida com o coração nas mãos” iria trocar as explicações sobre a válvula mitral ou a aorta por uma “selfie curricular”. E assim foi. Em pouco mais de uma hora, o médico percorreu uma carreira que começou pela licenciatura em medicina, na capital de Moçambique, quando esta ainda se chamava Lourenço Marques, em 1972 e que terminou com a lição desta sexta-feira, o dia em que fez 70 anos.

Durante a lição lembrou a passagem pela África do Sul, onde se especializou, doutorou em cirurgia cardio-torácica e esteve 13 anos como director de serviço. Voltou a Portugal em 1988, fazendo pouco depois as primeiras cirurgias em Coimbra. Nunca mais deixaria de regressar ao bloco operatório até à última cirurgia, levada a cabo na quinta-feira. Em cerca de três décadas liderou uma equipa responsável por 45 mil cirurgias cardíacas e pulmonares, bem como por 385 transplantes de coração. A viagem pela própria carreira foi sendo acompanhado pelo médico com citações de personalidades tão diversas como Albert Einstein, João Lobo Antunes, Michael Jordan ou Madre Teresa de Calcutá, mas também por uma quadra do hino da Mocidade Portuguesa.

Há uma certa amargura no tom com que Manuel Antunes afirma que, de agora em diante, poderá exercer a profissão, apenas ficando excluído do Serviço Nacional de Saúde devido ao limite da idade. “Faz-me confusão que amanhã não possa operar neste hospital”, mas que o possa fazer em outros pontos do globo, afirmou. O médico-cirurgião disse aos jornalistas que ainda não sabia que caminho seguir, se o trabalhar em clínicas privadas, se integrar missões humanitárias.

Para além de Marcelo Rebelo de Sousa, Manuel Antunes contou com a presença de antigos responsáveis políticos como Maria de Belém e Ramalho Eanes. Entre outras funções, o médico foi consultor de Cavaco Silva para a área da Saúde quando este foi Presidente da República. No final da lição do médico, coube a Marcelo baptizar o edifício da cirurgia cardio-torácica do CHUC com o nome de Manuel Antunes.

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