Coreia do Norte põe reunião de famílias em risco ao exigir repatriamento de 12 mulheres

Trabalhavam num restaurante norte-coreano na China e foram levadas para a Coreia do Sul sem saberem para onde iam. Mas o repatriamento é complicado.

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Reencontro de irmãos em 2014; um deles foi raptado pelo Norte em criança Reuters

A Coreia do Norte fez saber nesta sexta-feira que uma reunião de familiares que ficaram divididos pela guerra e que estava agendada para Agosto pode não acontecer se 12 mulheres que chegaram ao Sul há dois anos não lhe forem devolvidas.

As 12 mulheres eram empregadas de um restaurante norte-coreano na China e chegaram à Coreia do Sul em 2016. Pyongyang acusou Seul de as ter raptado, a Coreia do Sul responde que entraram no país de livre vontade. Não fazem parte do grupo de 31 mil pessoas que fugiu do Norte para Sul desde que a guerra (1950-53) acabou.

Este grupo de mulheres tem sido usado pelo Norte para rejeitar os pedidos do Sul para a realização de encontros entre familiares que foram separados após a divisão da Península Coreana em dois países.

Porém, nota a Associated Press, agora – e pela primeira vez – o governo de Pyongyang relaciona directamente as mulheres com os encontros familiares. Estas reuniões foram faladas na cimeira histórica Norte-Sul, quando o diálogo entre os dois lados foi reaberto. O processo culminou com outra cimeira histórica, entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Coreia do Norte, Kim Jong-un, que desanuviou a tensão regional ao prometer a desnuclearização da península.

Nos últimos meses surgiram notícias sobre a possibilidade de as mulheres terem de facto entrado no Sul sem perceberem. Um especialista em direitos humanos na Coreia do Norte das Nações Unidas, Tomas Ojea Quinatana, disse aos jornalistas em Seul que falou com as 12 mulheres e que estas lhe disseram que algumas desconheciam que iam para a Coreia do Sul quando deixaram a China.

“Pode ter havido crime se foram levadas contra a vontade", disse Quinatana. "O governo da República da Coreia tem o dever de investigar o que se passou".

Artigos na imprensa sul-coreana citando algumas das mulheres e o gerente que as acompanhou têm defendido que as mulheres não sabiam para onde iam quando saíram da China.

As 12 mulheres chegaram à Coreia do Sul quando o país era governado pelos conservadores, que tinham uma abordagem distinta em relação a Pyongyang e ao seu programa nuclear. O actual Presidente, Moon Jae-in, é favorável à reaproximação e ao diálogo. Mas os analistas dizem que o repatriamento destas mulheres é um assunto delicado - algumas podem querer ficar onde estão, outras poderão recear que os familiares no Norte sofram represálias. 

Desde o final da guerra, as duas Coreias proibiram visitas a familiares no outro lado. É preciso autorização especial e os dois governos já promoveram encontros. O programa começou em 2000 e, desde então, perto de 20 mil pessoas participaram nestas reuniões familiares. Segundo o Ministério para a Reunificação de Seul, das 132 mil pessoas que se inscreveram no programa, 75 mil já morreram (os participantes são escolhidos por lotaria). A última reunião familiar teve lugar em 2014.

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