PS quer classificação "urgente" da Companhia Aurifícia após notícias de venda

Exemplar da arquitectura industrial da cidade ocupa 1,6 hectares entre as ruas dos Bragas e Álvares Cabral, na zona de Cedofeita.

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Nelson Garrido

O PS/Porto defendeu nesta sexta-feira ser "urgente" a classificação da Companhia Aurifícia (CA) como imóvel de Interesse Público, alertando tratar-se de um "exemplar da arquitectura industrial" da cidade, recentemente vendido, segundo um site da especialidade.

"É um dos poucos edifícios exemplarmente preservados de uma certa arquitectura industrial do Porto. É urgente promover a sua classificação. Com ela ficaremos mais descansados: qualquer proprietário terá um conjunto de obrigações patrimoniais que garantirá que a memória da cidade não é atingida", disse à Lusa Manuel Pizarro, vereador socialista na Câmara do Porto, para quem "não é suficiente" que a CA integre o Conjunto Arquitectónico de Álvares Cabral, classificado como Conjunto de Interesse Público (CIP) em 2012.

Também a CDU quer a protecção do exemplar de "arquitectura industrial", que ocupa 1,6 hectares entre as ruas dos Bragas e Álvares Cabral, na zona de Cedofeita, depois de Pedro Couto, vice-presidente da Telhabel, uma das empresas envolvidas na compra, ter confirmado a aquisição a um site imobiliário.

A Lusa tentou falar com Pedro Couto sobre a Companhia Aurifícia, através do telefone da empresa Telhabel, tendo recebido a indicação para enviar as questões por correio electrónico. Ainda não recebeu qualquer resposta, apesar de várias insistências.

Também contactada pela Lusa, a Câmara do Porto respondeu, através do gabinete de comunicação, que o município "não tem conhecimento sobre a publicação de anúncio de venda do edifício da Companhia Aurifícia, na Rua dos Bragas, no âmbito do exercício de direito de preferência".

Para o presidente da distrital do PS/Porto e vereador na Câmara do Porto, "o problema não é quem é o proprietário".

"É urgente promover a classificação e a integridade patrimonial da CA, porque está em causa um espaço que combina um edifício industrial com um espaço verde belíssimo", afirmou.

Questionado sobre a integração da CA no conjunto arquitectónico de Álvares Cabral, CIP desde 2012, Pizarro disse que "não basta".

No despacho daquela classificação, a CA é apontada como "património excepcional" no despacho da presidência de Conselho de Ministros, publicado em Diário da República (DR) de Dezembro de 2012.

O documento destaca ainda a CA por representar "o exemplo mais bem preservado e coerente de uma instalação industrial dos séculos XIX-XX na área metropolitana do Porto".

Ilda Figueiredo, vereadora da CDU, quer verificar se a CA está já classificada, nomeadamente no âmbito do Plano Director Municipal (PDM) do Porto.

"Se não estiver, deve ser, pela sua importância ao nível da arquitectura industrial", disse.

A Lusa tentou também, sem sucesso, ouvir o vereador do PSD na Câmara do Porto, Álvaro Almeida.

Numa notícia divulgada em 26 de Junho no site imobiliário Idealista, o vice-presidente da Telhabel confirmou a aquisição das acções da CA por cerca de 10 milhões de euros, por parte de uma sociedade composta por aquela empresa e investidores estrangeiros.

O gestor indicou que os novos proprietários estão "conscientes do valor do património e da sua da importância" para a cidade, pelo que pretendem "preservar o património da Aurífica".

A CA integra uma fábrica de pregaria que iniciou actividade em 1864 e fechou há mais de uma década.

Em 2013, Humberto Silva e Humberto Fonseca, do gabinete Infantaria, venceram o concurso de ideias lançado pela Ordem dos Arquitectos do Norte para a reabilitação do quarteirão da CA.

Se a proposta tivesse sido posta em prática, o quarteirão teria recebido um hotel onde então estava um terreno usado como estacionamento na rua de Cedofeita, uma residência para artistas em Álvares Cabral e uma galeria de arte, no perímetro interior, que seria transformado num parque público, acessível por passagens ao nível do rés-do-chão dos vários equipamentos a construir, divulgou na altura o jornal PÚBLICO.

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