Nas Caldas da Rainha há 93 hectares de mata do Estado ao abandono

Área arborizada gerida pelo ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) está coberta de mato e silvas. Risco de incêndio é elevado.

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Se algo destaca a freguesia do Carvalhal Benfeito, no concelho das Caldas da Rainha, é a Mata Nacional das Mestras, uma área de 93 hectares, dos quais 84 estão arborizados, sobretudo com sobreiros, mas também com algum pinheiros mansos e carvalhos. Contudo, o que poderia ser um espaço de lazer e de fruição, é hoje em dia um sítio abandonado onde as silvas e o mato chegam a atingir dois metros de altura, cobrindo por vezes os próprios sobreiros, que mal se vislumbram no meio do matagal. A rede viária interior, com uma extensão de quatro quilómetros, está também invadida pelo mato e com locais onde até um veículo todo-o-terreno teria dificuldade em passar.

“Revolta-me ver a mata neste estado!” O desabafo é do presidente da Junta de Freguesia de Carvalhal Benfeito, António Colaço, que se sente impotente perante uma administração que não só não cuida daquele espaço, como nega a existência do problema. “O Estado é que deveria dar o exemplo e a mata deveria estar mais cuidada e mais limpa, mas quando lhes pergunto [ao Instituto da Conservação da Natureza e Florestas — ICNF] respondem-me que está tudo bem, que a gente não se preocupe porque está tudo sobre controlo”.

Pedro Roque vive na localidade das Mestras, que confina com a mata nacional, e não esconde a preocupação pela elevada probabilidade de ali ocorrer um incêndio. É ele que mostra ao PÚBLICO a visível a falta de limpeza da mata.?

Casa da guarda abandonada

De repente avista-se uma casa em alvenaria. Uma construção sólida, com vários anexos, mas abandonada desde 1990 e agora coberta de vegetação. Era a casa do guarda, num tempo em que a Mata Nacional das Mestras estava sob a alçada da guarda florestal. Naquela época, conta Carlos Ribeiro — que nasceu e viveu a sua infância naquela casa porque o pai era o guarda da Mata — tudo estava limpo e devidamente cuidado e podia-se circular entre os sobreiros sem precisar de uma roçadora mecânica.

Foi o que aconteceu no ano passado quando se realizou a extracção de cortiça dos sobreiros. Para os homens poderem acercar-se aquelas árvores, foi necessário uma roçadora para abrir uma picada por onde passava o pessoal e a cortiça.

De acordo com o ICNF, aquele instituto vendeu em hasta pública 1540 arrobas (23.100 quilos) de cortiça por 18.762 euros. Já em 2011 a Mata das Mestras também proporcionou receitas ao Estado. Desta vez foram 60.800 euros obtidos através da venda, também em hasta pública, de um lote de 7,7 hectares de povoamento puro de pinheiro bravo que proporcionaram 2627 metros cúbicos de madeira.

Quanto à falta de limpeza, o ICNF realça que se trata de “uma mata com estatuto de conservação e, nessa medida, tem tido o grau de intervenção adequado ao seu estatuto”.

A mesma resposta, enviada por email, refere ainda que “o ICNF já concluiu a realização das faixas secundárias de gestão de combustível na Mata Nacional das Mestras” tendo, por isso, dado cumprimento, ao previsto na legislação.

Quanto à vigilância da Mata, o instituto diz que esta esteve cometida ao Corpo de Sapadores Florestais, mas após a integração deste na GNR, a responsabilidade passou para esta entidade. Refere ainda que “existem vários postos de vigia fixos que têm bacias de visibilidade sobre a área”.

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