Câmara e Turismo de Portugal desentendem-se por causa de semana tauromáquica

Autarquia considera-se “desrespeitada” e rejeita eventuais posições pessoais antitauromaquia. Turismo de Portugal garante que não tomou qualquer atitude contra a tauromaquia e que, tal como acontece com outras manifestações culturais portuguesas, pode apoiar eventos taurinos.

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Bruno Simoes Castanheira (colaborador)

A Câmara de Vila Franca de Xira foi surpreendida, no final de Junho, com uma comunicação por email de um técnico do Turismo de Portugal que exigia a retirada do símbolo deste instituto do leque de entidades que apoiavam a Semana da Cultura Tauromáquica, evento organizado pela autarquia há 29 anos consecutivos. O município pediu esclarecimentos ao Governo e ao presidente do Turismo de Portugal e considera “inaceitável” que alguma eventual posição pessoal contra a tauromaquia tenha motivado esta atitude de “desrespeito” institucional. O Turismo de Portugal garante, por seu turno, que não tomou qualquer posição contra a tauromaquia mas que o seu logótipo só deve ser utilizado em iniciativas próprias ou onde está envolvido como parceiro.

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A Câmara de Vila Franca de Xira foi surpreendida, no final de Junho, com uma comunicação por email de um técnico do Turismo de Portugal que exigia a retirada do símbolo deste instituto do leque de entidades que apoiavam a Semana da Cultura Tauromáquica, evento organizado pela autarquia há 29 anos consecutivos. O município pediu esclarecimentos ao Governo e ao presidente do Turismo de Portugal e considera “inaceitável” que alguma eventual posição pessoal contra a tauromaquia tenha motivado esta atitude de “desrespeito” institucional. O Turismo de Portugal garante, por seu turno, que não tomou qualquer posição contra a tauromaquia mas que o seu logótipo só deve ser utilizado em iniciativas próprias ou onde está envolvido como parceiro.

Certo é que tudo terá resultado de uma queixa de uma plataforma antitaurina, que questionou o Turismo de Portugal sobre o envolvimento deste instituto público na XXIX Semana da Cultura Tauromáquica, que a câmara vila-franquense promoveu de 29 de Junho a 5 de Julho. A iniciativa integra exposições, colóquios, concurso de recortadores, treinos de jovens aspirantes a toureiros e de forcados, novilhada, pintura e vários eventos com tertúlias tauromáquicas. 

Depois disto, o município recebeu um email de um técnico superior do TP, que exigia a retirada do símbolo do Turismo de Portugal dos materiais de divulgação da Semana da Cultura Tauromáquica. A câmara reagiu e enviou um extenso ofício de quatro páginas ao presidente do TP, Luís Araújo, ao primeiro-ministro e aos ministros da Economia e da Administração Interna.

Alberto Mesquita, autarca socialista que preside à câmara, considera “estranha” e “institucionalmente inadequada” a forma como um técnico do Turismo de Portugal remeteu um email ao município para “exigir a retirada dos logótipos institucionais daquele instituto público”. O presidente recorda, ao longo de 29 anos, o município sempre colocou nos cartazes o logótipo institucional da entidade administrativa pública com jurisdição nacional no domínio do turismo sem que houvesse reacção.

Na sua opinião, a inserção do logótipo do TP constitui, em primeiro lugar, uma cortesia e deferência institucional, tendo em conta “a relevância e a projecção nacional e internacional da Semana da Cultura Tauromáquica e o seu impacto ao nível do turismo”, com “a presença de muitos turistas estrangeiros que tomam parte neste evento e participam, de seguida, no Colete Encarnado, a mais emblemática festa do Ribatejo”.

Em segundo lugar, “sendo a tauromaquia um elemento fundamental da identidade cultural de Portugal, da sua história e das suas tradições e costumes, cujos eventos, nomeadamente a Semana da Cultura Tauromáquica, revestem impacto positivo na promoção e projecção turística dos concelhos, das regiões e do país, não se vislumbra nem se expecta que a entidade estadual de turismo, com jurisdição nacional, se oponha a tal uso, como nunca se opôs, sendo a situação presente, no ano em curso, completamente inédita, inusitada e infundamentada”, lamenta o autarca.

Alberto Mesquita considera, por isso, que a atitude do técnico do TP “concretiza uma grave desconsideração institucional do Turismo de Portugal em relação ao município de Vila Franca de Xira e aos seus órgãos democraticamente sufragados, que consideramos totalmente inaceitável”. E acrescenta que cabe “ao Estado defender, proteger, promover, divulgar, valorizar e apoiar essa herança a tradição” tauromáquica.

Alberto Mesquita deu conhecimento aos vereadores desta sua carta na sessão camarária do passado da semana passada. Regina Janeiro, vereadora da CDU, manifestou o seu apoio à posição do executivo camarário, mas defendeu que o presidente da câmara não se deveria limitar a enviar este ofício, antes deveria abordar directamente o assunto com o presidente do TP. “Estes problemas não se resolvem por ofício. Percebemos que houve desrespeito pela câmara, mas pensamos que o senhor presidente deveria contactar o TP para perceber o que aconteceu”, referiu.

TP desmente

Fonte oficial do Turismo de Portugal assegurou, por seu turno, em resposta ao PÚBLICO, que não há neste caso qualquer tipo de posição contra a tauromaquia. “Cabe-nos informar que o logótipo do Turismo de Portugal tem um carácter exclusivamente institucional, sendo a sua utilização apenas possível na comunicação deste organismo, em acções promocionais e eventos organizados pelo próprio instituto, patrocinados ou desenvolvidos em parceria. A cedência a outras entidades pode ainda acontecer no caso de se tratar de um apoio financeiro ou no âmbito de publicitação de programas dos incentivos concedidos ao abrigo dos fundos estruturais”, explica fonte do Turismo de Portugal, frisando que a Semana da Cultura Tauromáquica de Vila Franca de Xira “não se encontra abrangida por nenhuma destas situações, motivo pelo qual foi solicitada a cessão da utilização do logótipo”.

O Turismo de Portugal garante, todavia, que “isto não significa qualquer tomada de posição em relação a eventos tauromáquicos em particular, que, tal como muitas outras manifestações culturais portuguesas, podem ser alvo de apoio do Turismo de Portugal desde que, após análise por parte da equipa técnica do Turismo de Portugal, sejam consideradas relevantes, contribuindo de forma evidente para a promoção de Portugal enquanto destino turístico ou para o desenvolvimento local e regional do sector do turismo”.