Quem recorre a terapias alternativas por causa do cancro pode não viver mais tempo

Doentes com cancro que fazem terapias complementares podem ser mais propensos a evitar tratamentos convencionais e arriscam a não sobreviver tanto quanto aqueles que as fazem.

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Steve Jobs fez dietas e tratamentos alternativos antes de se submeter a uma cirurgia Reuters/STEPHEN LAM

Um estudo com 1290 doentes nos EUA revela que os que recorreram a terapias alternativas recusavam, muitas vezes, fazer quimioterapia ou ser operado. Ou seja, os doentes que fazem terapias complementares são mais propensos a evitar os tratamentos convencionais e essa decisão poderá levá-los a sobreviver menos tempo do que o previsto.

Segundo o estudo publicado no Jama Oncology – que observou 258 doentes que usaram terapias complementares associadas a pelo menos um tratamento convencional, e 1032 que receberam só o tratamento convencional – foram menos os que sobreviveram cinco anos após o início do tratamento, em comparação com aqueles que seguiram o convencional, cita a BBC – 82,2% em comparação com 86,6%.

Os investigadores não sabem que terapias complementares foram usadas, mas apontam que poderão ser dietas, infusões, toma de vitaminas ou suplementos de minerais. E o problema não está em usá-las, mas na recusa de seguir um tratamento convencional ou em aceitá-lo já tarde demais. Apesar de Skyler B. Johnson, investigador principal deste estudo, da Escola de Medicina da Universidade de Yale, declare que estas terapias poderão interagir com os tratamentos convencionais e torná-los menos eficazes, também diz que podem ser usados como complementares. “Embora possam ser usados para apoiar doentes que apresentam sintomas no tratamento do cancro, parece que estão a ser comercializados ou entendidos como tratamentos eficazes contra o cancro”, alerta.

Recorde-se o caso de Steve Jobs, que tinha 48 anos quando lhe foi diagnosticado um cancro pancreático a tempo de ser curado. Jobs recusou e passou nove meses a tentar curar-se com sumos de frutas, dietas vegetarianas e outros “remédios” que encontrava na Internet. Até que, acabou por se submeter à cirurgia. Viria a morrer sete anos mais tarde, aos 56 anos, após múltiplas complicações relacionadas com a doença.

Voltando ao estudo, comparando pessoas que fizeram terapias complementares com as que não fizeram, o relatório revela que: 34% recusaram a quimioterapia em comparação com 3,2%; 53% recusaram a radioterapia em comparação com 2,3%; e 7% recusaram a cirurgia em comparação com 0,1%.

Os autores do estudo observaram que do grupo dos 258 doentes que recorreram a tratamentos complementares a maioria era do sexo feminino (199), com uma média de idade mais jovem (56 anos), mais ricos e mais saudáveis, logo, os resultados seriam piores se não fosse o facto de terem mais condições de sobrevivência ao cancro, concluem. “A realidade é que, apesar de muitos doentes acreditarem que esse tipo de terapias não comprovadas melhorarão a sua sobrevivência e possivelmente até melhorem as suas oportunidades de cura, não há realmente nenhuma evidência para apoiar essa afirmação”, declara Johnson, citado pela BBC.

Martin Ledwick, enfermeiro-chefe do Cancer Research UK, ouvido também pela BBC, considera que as terapias complementares podem ajudar a melhorar o bem-estar ou a qualidade de vida de alguns doentes. “Mas é importante que não as vejam como uma alternativa aos tratamentos convencionais”, sublinha.

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