Exame de Português: professores dizem que algumas questões não eram objectivas

Prova da 2.ª fase foi realizada por 21.270 alunos do 12.º ano.

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Exame da 2.ª fase foi equivalente ao da segunda Margarida Basto

A Associação de Professores de Português (APP) considera que a prova de Português do 12.º ano, que foi realizada nesta quinta-feira por 21.270 alunos, “está equilibrada, a gramática é adequada e a escolha múltipla, do texto informativo, é objectiva”, mas alerta que a formulação de quatro dos sete itens do Grupo I “carecem de objectividade”. Razão: “Nos critérios de classificação são exigidos dois tópicos, para que estas questões sejam avaliadas com a cotação máxima, em termos de conteúdo; contudo, as instruções não são claras, relativamente a esta condição, o que pode penalizar os alunos”.

Os critérios de correcção são as instruções elaboradas pelo Instituto de Avaliação Educativa, responsável pela elaboração e correcção dos exames, para guiar a classificação das provas pelos professores. Com a cotação máxima, estes itens valem 50 pontos em 200, que é a escala utilizada para a classificação dos exames do secundário.

Um exemplo. Com base no Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira , no item 5 deste grupo pede-se aos alunos que expliquem “a crítica que é feita aos homens, incluindo os membros do clero”. Nos critérios de correcção explicita-se que devem abordados “os tópicos seguintes ou outros igualmente relevantes: os homens (à semelhança dos peixes) são criticados por se deixarem seduzir pelo vício da vaidade/por se deixarem atrair por ‘dois retalhos de pano’, o que os conduz à morte/perdição; os membros das ordens religiosas e militares (de Malta, de Avis, de Cristo e de Santiago) não ficam imunes à vaidade de ostentarem o hábito da respectiva ordem, o que acaba por os conduzir à morte”.

Para além do poema de Ricardo Reis (na 1.ª fase tinha sido a Mensagem de Fernando Pessoa), os alunos tiveram de analisar um excerto do Sermão de Santo António (aos peixes) de Padre António Vieira, uma parte do livro O Altruísmo e a Moral de Francisco Alberoni e Salvatore Veca. E escrever também um “texto de opinião” sobre “o impacto do progresso técnico na qualidade de vida do ser humano no futuro”.

À semelhança do que já tinha acontecido com o exame da 1.ª fase também foi pedida aos alunos “uma breve exposição”, no caso sobre Cesário Verde, sem que existisse menção ao número máximo de palavras.  

A APP refere ainda que a prova da 2.ª fase apresentou “estrutura e cotações idênticas à da 1.ª fase”. O exame realizado em Junho foi criticado por professores e alunos devido a alterações na estrutura da prova e nas cotações atribuídas das quais não tiveram conhecimento prévio. A APP chegou mesmo a alertar que tal poderia vir a ter consequências nos resultados, o que não aconteceu. A Português (com mais de 55 mil examinandos), a média dos alunos internos (os que frequentaram as aulas até ao fim) desceu apenas, na 1.ª fase, de 11,1 para 11 valores (numa escala que vai até 20).

No dia da realização deste exame, a 19 de Junho, o presidente do Iave, Helder de Sousa, tinha desvalorizado as críticas, afirmando que não houve alterações estruturais, apenas ajustamentos. Estes “resultam da análise de resultados de anos anteriores e visam melhorar a validade da prova e das classificações”, explicou.

Notícia corrigida às 20H00 de sexta-feira. Alterado o nome da obra e do autor e também o número de itens que foram alvo de alerta por parte da associaçãod e professores. 

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