Concentração começou sem Hells Angels mas polícia ainda os espera

Autoridades estão em alerta. Nenhum destes motociclistas foi visto no evento mas alguns foram detectados em Faro na quarta-feira. GNR e PSP reforçaram o efectivo policial.

Foto
LUSA/LUÍS FORRA

Gostam de exibir os coletes de cabedal, tatuagens e pose militarista, montados em potentes motos, fazendo com que nunca passem despercebidos, mas esta quinta-feira, no primeiro dia da Concentração Internacional de Motos, em Faro, não houve sequer sinal de elementos dos Hells Angels, aos quais está ligado o grupo de 59 detidos recentemente, alguns indiciados por três tentativas de homicídios. As autoridades, contudo, ainda receiam que possam aparecer nos próximos dias, nomeadamente alguns vindos do estrangeiro, apurou o PÚBLICO.

O recinto do Vale das Almas, junto à praia de Faro, onde decorre a concentração, está organizado como se fosse uma cidade. Na zona que habitualmente é ocupada pelos Hells Angels, não se vislumbra sinais da sua presença. Por enquanto, o que se sabe é que andaram a rondar as imediações na quarta-feira. Cinco elementos foram vistos a jantar num restaurante da baixa da cidade. As polícias sinalizaram a sua presença, tendo concluído que não ficaram em Faro. “A segurança não é mais nem menos do que nos anos anteriores”, diz o presidente do Moto Clube de Faro, José Amaro. Porém, a preocupação manifesta-se. À entrada do recinto, a GNR recebeu instruções para apertar a segurança e a identificação de todos que entram.

As notícias dos últimos dias, dando conta que as autoridades temiam um confronto entre este grupo e o rival Los Bandidos, com o reforço de elementos vindos do estrangeiro, obrigaram à tomada de medidas. A GNR, com a responsabilidade de segurança na zona, reforçou o dispositivo habitual com efectivos da Unidade de Intervenção e do Grupo de Intervenção Cinotécnico.

Nas principais vias de acesso ao Algarve – A2, Via do Infante, EN 125 e EN 2 – a GNR montou operações de controlo de tráfego, tendo presente as condições particulares em que decorre esta 37.ª concentração. A organização espera, à semelhança dos anos anteriores, receber 18 mil motociclistas. Os espanhóis são os que estão em maior número, seguidos dos portugueses. As bandas musicais e o show de strip-tease são a outra componente da festa, atraindo a atenção de quem gosta de apreciar música e espectáculos em ambientes menos convencionais.

O presidente do Moto Clube de Faro não acredita na possibilidade de confrontos entre os Hells Angels e os Los Bandidos. Mas sempre diz que as forças policiais estão em “alerta” para qualquer eventualidade. A câmara de Faro, antes de aprovar o plano de segurança, dentro e fora do recinto, reuniu com as chefias de todas as forças policiais e outras entidades com responsabilidade na área. “As forças de segurança estão em alerta em relação a esta questão, estamos todos coordenados e a trabalhar”, anunciou esta quinta-feira, o presidente do município, Rogério Bacalhau, em conferência de imprensa realizada no local, ao lado de José Amaro e de outros responsáveis pelo evento.

No interior, o ambiente é de festa e convívio. “Vai ser um grande espectáculo”, prevê José Amaro, destacando as bandas musicais e os shows, apreciados não apenas pelos motociclistas. A organização aguarda entre 25 a 26 mil visitantes. O Corpo de Intervenção da PSP destacou efectivos para o centro da cidade, uma vez que há milhares de motociclistas a circular pelo centro e por toda a região.

Motards não estão preocupados

Vindo de Córdoba, Espanha, integrado num grupo de 12 motards, João António, de 35 anos, estreia-se nesta 37.ª Concentração Internacional de Motos. “Venho pela primeira vez, porque tenho amigos que me disseram que era interessante”, disse. “Bonito, gosto muito”, comentou mal acabara de montar a tenda. Os problemas relacionados com a segurança não o preocupam. “Não ouvi falar em nada, está tudo tranquilo”, concluiu. A verdade é que as autoridades policiais mantêm a hipótese de os dois grupos rivais se encontrarem no local. O ambiente é de expectativa. “Pode aparecer um maluco qualquer, que não tenha nada a ver com as motos - pode acontecer aqui, como aconteceu em França e noutros locais”, admitiu José Amaro, sublinhando: “Está tudo a correr com a normalidade habitual.”

Pedro Silva também não está preocupado. “Acho que é mais perigoso hoje em dia ir ao futebol com as crianças do que vir para aqui”. A opinião, diz, é sustentada pela experiência que leva de mais de 26 anos, a frequentar aquele evento. “Este ano trago a minha filha mais velha, que faz 21 anos em Setembro”. O encontro, diz, é o espaço ideal para “quem gosta de motos e de praia, como é o meu caso”. Quanto à presença de gangs, a diferença de agora em relação ao passado está na divulgação que é feita. “Sempre existiram, eu venho aqui para me divertir”, acrescentou.

O presidente da Federação de Motociclismo de Portugal, Manuel Marinheiro, chegou a Faro de moto. “Sendo advogado, tenho de reconhecer que o crime praticado em associação tem outras componentes, outra dimensão.”

Ainda não é possível estimar o número de participantes que chegarão de norte a sul do país e mesmo de Espanha e de outros países. As inscrições abriram ontem, embora alguns dos participantes tenham chegado uns dias antes para aproveitar o tempo de praia. “Acho que tem havido um empolamento desgraçado [das notícias]”, lamentou José Amaro, referindo-se aos riscos de confrontos entre grupos rivais. “Não ouvi falar nada de problemas de segurança”, disse Pedro Montero, que participa no evento deste 1999 e acabava de chegar de Mérida. Com Mariana Oliveira

Sugerir correcção
Comentar