Uma bienal de arte têxtil para tecer a ponte entre a indústria e a cultura

As relações entre o tradicional e o contemporâneo e entre o que é cultural e industrial vão marcar a quarta edição da Contextile, de 1 de Setembro a 20 de Outubro, com mais de 200 artistas presentes.

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Peça de VUfqmpA

Num território que trata o têxtil por tu, enquanto indústria – segundo os números mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, o sector foi, em 2017, responsável por 63% das exportações de Guimarães -, a arte vai ressurgir nos espaços públicos para lançar olhares sobre os fios e os tecidos, que não aqueles associados à rotação das máquinas no seio de uma fábrica: olhares que procuram transformar o têxtil num fenómeno cultural. “Quisemos envolver o território e a indústria têxtil. Associar a cultura e a criatividade ao têxtil. A matriz da bienal é colocar o têxtil no contexto da arte contemporânea”, explicou o director da Contextile Joaquim Pinheiro, durante a apresentação do evento, na quinta-feira, na Casa da Memória.

Com um percurso iniciado em 2012, ano de Capital Europeia da Cultura, que regista mais de 90.000 visitantes nas três primeiras edições, a Contextile vai reunir novamente artistas de várias partes do mundo, embora, pela primeira vez, sob um conceito que agrega todo o trabalho em exposição. Sob o tema (In)Orgânico, a bienal procura entender o território vimaranense como um “organismo vivo”, que conjuga as tradições, mas também a contemporaneidade do têxtil, observou a directora artística, Cláudia Melo. “O conceito pode-se resolver numa equação muito simples: pensar que o órgão está para o corpo, como a comunidade está para o território”, acrescentou.

Organizada pela Ideias Emergentes, cooperativa do Porto, com o apoio da Câmara Municipal de Guimarães e da Direcção-Geral das Artes, a quarta edição da bienal vai apresentar, no Palácio Vila Flor, uma exposição internacional com 59 obras de 52 artistas, seleccionadas de um conjunto de 840 propostas – houve um “aumento significativo”, disse Joaquim Pinheiro -, e outras mostras paralelas, como as das residências artísticas, que decorreram em parceria com a Bienal Internacional de Linho de Portneuf, no Quebeque, e com a plataforma europeia Magic Carpets, de apoio a artistas emergentes. O programa inclui ainda duas artistas convidadas: a israelita Dvora Morag, que vai estar pela segunda vez no evento, e a norte-americana Ann Hamilton.

Conhecida pelas instalações de larga escala em mais de 35 anos de carreira, a artista de Ohio está a criar uma obra específica para a Contextile, baseada na pesquisa realizada, desde Dezembro, em museus e arquivos de Guimarães. Presente na apresentação, Ann Hamilton disse ao PÚBLICO que vai procurar “reflectir coisas muito antigas que avançam no tempo”, não com uma grande instalação, mas com várias instalações que procuram ligar os espaços da cidade, nomeadamente a Sociedade Martins Sarmento, a Plataforma das Artes e o novo mercado municipal. “A instalação no mercado têm em conta a forma como as coisas circulam e à ideia de troca social associada àquele espaço, em contraste ao silêncio e à conservação de um museu”, descreveu.

Ultrapassar o estigma do têxtil

A Contextile vai ter, pela primeira vez, um serviço educativo. O projecto vai funcionar, neste ano, com actividades junto dos alunos do 7.º ano e, segundo Cláudia Melo, almeja criar um “novo pensamento em torno do têxtil”. Também presente na cerimónia, a vereadora com o pelouro da cultura na Câmara de Guimarães, Adelina Paula Pinto, realçou que os avós e os pais de quem anda hoje na escola nutrem um estigma em relação ao têxtil, por terem passado as vidas “numa indústria pesada e muito mal paga”, e que é preciso lançar um novo olhar sobre o sector, alicerçado em eventos como a Contextile. “Este casamento entre cultura e têxtil tem de ser alimentado e não pode dar divórcio”, disse.

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