FMI alerta zona euro que os bons tempos podem estar a acabar

Instituição pede aos governos que aproveitem o crescimento económico para aplicar as medidas certas, enquanto é tempo. "Brexit" e guerra comercial são riscos no horizonte

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O FMI (liderado por Christine Lagarde) aconselha a Alemanha a gastar mais Reuters/HANNIBAL HANSCHKE

Foi com um aviso claro de que os bons tempos podem estar prestes a acabar que o Fundo Monetário Internacional (FMI) fez esta quinta-feira mais um apelo aos países da zona euro para que aproveitem o crescimento da economia para fazer as mudanças estruturais de que precisam. E Portugal, como tem sido hábito, está entre os visados.

Na análise que faz anualmente à economia da moeda única, o FMI confirma a estimativa (apresentada no início da semana) de um abrandamento mais forte do que o esperado na actividade económica da zona euro durante este ano. E, para além disso, acentua o tom de urgência alertando para os riscos que se desenham no horizonte, como o impacto negativo do "Brexit" ou a escalada de uma guerra comercial a nível mundial.

O FMI antecipa agora um crescimento de 2,2% na zona euro durante este ano (em Abril esperava 2,4%), com uma nova descida para 1,9% em 2019 e o prolongamento de uma tendência de abrandamento nos anos seguintes, até a um crescimento próximo dos 1,5%. É ainda salientado que o abrandamento pode ser mais brusco se os riscos assinalados acabarem mesmo por se concretizar.

É por isso que, com uma insistência ainda maior do que em relatórios anteriores, o Fundo apela aos governos europeus que tomem medidas para ajudar as suas economias. Para a entidade liderada por Christine Lagarde isso passa, por um lado, por políticas orçamentais adequadas à situação que se vive em cada país.

Dívidas públicas elevadas vs excedentes externos excessivos

E aqui, o Fundo distingue dois tipos de países na zona euro. De um lado, estão os países com dívidas públicas elevadas – Portugal, Itália, Espanha, Grécia, França e Bélgica – onde “as cargas de dívida pública pouco diminuíram apesar do crescimento forte” e que agora devem “reconstruir almofadas orçamentais” e “realizar reformas estruturais para aumentar a produtividade”.

Do outro lado, estão os países com excedentes externos excessivos – Alemanha e Holanda – que devem “usar o espaço de manobra orçamental” para aumentar a despesa pública, incentivar o investimento privado e “encorajar um maior crescimento dos salários”.

Nestes apelos, o FMI salienta que é preciso os governos actuarem com urgência. “Os países membros devem aproveitar a oportunidade [de um crescimento forte e de uma política monetária expansionista] para enfrentar desafios estruturais profundos, reconstruir almofadas muito frágeis e reequilibrar-se face ao exterior. Os cada vez maiores riscos negativos agravam a urgência”, afirma o relatório.

Um dos principais riscos a enfrentar pela zona euro é o potencial impacto do "Brexit". O FMI calculou o efeito na economia dos 27 países que permanecem na União Europeia e estima que, usando dois cenários distintos de saída do Reino Unido da UE, a perda no longo prazo no PIB desses países pode ir, em média, dos 0,8% até aos 1,5%. Entre os países da UE, esse impacto varia bastante. Enquanto em Portugal o impacto estimado está, nos dois cenários utilizados, abaixo de 1%, num país como a Irlanda, com uma economia muita aberta e com grandes ligações ao Reino Unido, o impacto potencial vai quase aos 4%.

No relatório, o Fundo também apela a que, para além da actuação individual de cada um dos países, a zona euro procure fortalecer-se através de uma reforma da sua arquitectura. Aqui, o Fundo tenta agradar aos dois lados da barricada na discussão na zona euro, dizendo que “a redução do risco e a partilha de risco devem avançar em conjunto”. Ainda assim, reafirma a defesa de uma conclusão da união bancária, incluindo um seguro de depósito comum, e a criação de uma capacidade orçamental própria, para fazer face a choques externos, duas matérias em que ainda não foi possível encontrar consenso na zona euro.

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