Parlamento lamenta, unânime, a morte do “cidadão exemplarmente empenhado” João Semedo

Voto de pesar foi aprovado por unanimidade e recorda algumas leis na área da saúde que tiveram a participação do médico bloquista

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PAULO NOVAIS

O Parlamento aprovou por unanimidade, nesta quarta-feira, um voto de pesar pela morte de João Semedo, considerando-o um “cidadão exemplarmente empenhado” e um “grande parlamentar”. O texto do voto, proposto pelo Bloco de Esquerda, foi lido pelo deputado José Manuel Pureza, visivelmente emocionado.

O deputado, que é também vice-presidente da Assembleia da República, enumerou uma lista de leis ligadas à saúde nas quais João Semedo teve um “papel decisivo”. Foi o caso do testamento vital, da Carta dos Direitos dos Utentes do SNS, a prescrição de medicamentos através do princípio activo, o estatuto do dador de sangue, o acompanhamento dos doentes nos serviços de urgência, a dispensa gratuita de medicamentos após alta hospitalar e a inscrição do preço na embalagem dos medicamentos.

João Semedo foi deputado o Bloco durante quase uma década (entre 2006 e 2015) eleito pelo círculo do Porto, embora parte desse tempo fosse ainda independente. No Parlamento integrou diversas comissões parlamentares (saúde, assuntos europeus, orçamento e finanças) e as comissões de inquérito ao BPN, ao caso PT/TVI e à aquisição dos submarinos.

Só aderiu ao Bloco de Esquerda em 2007, quando já era deputado do partido em regime de exclusividade. Integrou a Mesa Nacional do BE partilhou com Catarina Martins a coordenação do partido entre 2012 e 2014.

“Impedido pela doença de prosseguir a sua actividade em termos plenos, empenhou-se na luta pela despenalização da eutanásia, tendo sido um dos principais activistas do Movimento pelo Direito a Morrer com Dignidade”, recorda o Bloco sobre o deputado que deixou o Parlamento em 2015 devido ao avanço da doença. “O seu último contributo para a democracia portuguesa foi a proposta de revisão da Lei de Bases da Saúde, que elaborou juntamente com António Arnaut, e que ambos publicaram em livro com o título Salvar o Serviço Nacional de Saúde.

João Semedo tornou-se activista estudantil no início dos anos 70, aderiu ao PCP em 1971 e chegou a ser membro do Comité Central. Em 1972 para a direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, ano em que também foi preso em Caxias, “recusando-se a assinar o documento elaborado pela PIDE a confessar actividades subversivas e a comprometer-se a abandoná-las”.

Depois do 25 de Abril continuou a sua acção de militante no Porto, dedicando-se às artes e à medicina – foi presidente do Hospital Joaquim Urbano entre 2000 e 2006. Ajudou a fundar o Sindicato dos Médicos do Norte e a Universidade Popular do Porto; integrou a direcção do FITEI e da cooperativa artística Árvore.

E cita a entrevista dada quando a doença já o limitava severamente: “Tive a vida que escolhi, a vida que quis, não tenho nada de que me arrependa no que foi importante. Segui sempre a minha intuição, nunca me senti a fazer o que não queria. Sim, fui muito feliz.”

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