Em Sines a volta ao mundo faz-se em 59 concertos

A partir desta quinta-feira, e até dia 28, o Festival Músicas do Mundo volta a instalar em Sines e Porto Covo um mapa da riqueza musical de todo o planeta. São dezenas de concertos para aprender a escutar o outro.

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Os colombianos Meridian Brothers actuam em Porto Covo no domingo, no regresso a um festival onde já foram felizes DR
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Os turcos BaBa ZuLa integram o alinhamento de sábado DR

O ritual já se instituiu e faz parte da rotina de milhares de espectadores. Desde 2003, ano em que uma comunidade mais alargada descobriu o Festival Músicas do Mundo (FMM), graças em grande parte às actuações dos jamaicanos Skatalites e do norte-americano Kronos Quartet, que o último fim-de-semana de Julho é, para muitos, passado em Sines. Não apenas porque a programação é única no cenário português (e mesmo num contexto internacional), mas sobretudo porque o FMM soube preservar uma identidade contrária aos imperativos comerciais de outros eventos do género: a Sines vai-se para tomar contacto com música que se desconhece, muito mais do que para reforçar o amor que se alimenta há anos por artistas de quem se domina a discografia de trás para a frente.

Criado em 1999 pela Câmara Municipal de Sines, e desde o primeiro momento com a impagável direcção artística de Carlos Seixas, o FMM tratou de apresentar na sua programação, ao longo dos anos, os nomes maiores das músicas fundadas em tradições locais – Oumou Sangaré, Omar Sosa, Black Uhuru, Hedningarna, Yat-Kha, Konono nº1, Staff Benda Bilili, Asha Bhosle, Tom Zé, Hermeto Pascoal, Rokia Traoré, Femi Kuti, Angélique Kidjo, Toumani Diabaté, Tony Allen, Värttinä, Trilok Gurtu, Tinariwen, Sílvia Pérez Cruz, Hugh Masekela, Salif Keita, Billy Bragg e tantos outros. O rol de nomes, exposto todos os anos nas traseiras do Castelo de Sines, é cada vez mais impressionante.

Mais do que o número de artistas que tem passado por Sines e Porto Covo (que, nos últimos anos, chama a si o primeiro fim-de-semana do festival), importa, no entanto, a diversidade de culturas que é chamada a palco. Na edição deste ano, a decorrer entre esta quinta-feira e o próximo dia 28 de Julho (até 22 em Porto Covo, de 23 a 28 em Sines), serão 59 concertos a percorrer 38 países e regiões, sublinhando essa ideia de que o festival é, antes de mais, um espaço de comunhão e de descoberta de outros povos, transformando este encontro numa forma de celebração de troca colectivas.

Carlos Seixas declarou à Lusa, a propósito desta 20.ª edição do FMM Sines, que “a boa música não escolhe géneros, nem escolhe fronteiras”. Mas as fronteiras continuam a ser uma dor de cabeça para o programador, talvez até mais hoje do que há 20 anos, com “as grandes questões ligadas às migrações” a boicotarem, por vezes, o trabalho da organização e a vontade dos músicos. Desta vez foram os Konono Nº1, uma das maiores referências actuais da música congolesa e africana, a verem a sua entrada na Europa negada por problemas na obtenção de vistos (em sua substituição actuam os Inner Circle). É um clássico do festival quando toca a artistas asiáticos e africanos, uma vez que em anos anteriores a mesma situação se verificou, por exemplo, com o zimbabueano Olivier Mtukudzi, o moçambicano Wazimbo ou o chinês Mamer.

Mtukudzi é, aliás, um dos cabeças de cartaz de 2018, integrando a fortíssima noite de despedida deste FMM, em que partilhará o palco com as canções luso-crioulas de Sara Tavares, a pop libanesa de Yasmine Hamdan, o funaná irresistível dos Bulimundo e o sound-system brasileiro Baiana System. Nos dias anteriores, por Sines passarão ainda nomes obrigatórios como Sutari, Elida Almeida, Derya Yildirim & Grup Simsek, Alsarah & The Nubatones, Sofiane Saidi & Mazalda, Kimmo Pohjonen, Sons of Kemet, Cordel do Fogo Encantado ou Maravillas de Mali.

Antes disso, no entanto, o Largo Marquês de Pombal arranca com quatro dias de programação gratuita de primeira linha. Esta quinta-feira, o fado de Aldina Duarte terá a companhia do projecto alternativo egípcio Lekhfa e do jazz-rock-klezmer nova-iorquino dos Barbez. Sexta-feira será a vez do frenesim dos cipriotas Monsieur Doumani ou da pop desconcertante da brasileira Karina Buhr, enquanto sábado nos trará o canto doce maliano de Vieux Farka Touré (filho de Ali Farka) e domingo haverá dança com o klezmer dos polacos Kroke. Mas o fim-de-semana será certamente marcado por duas pérolas de rock carregado de psicadelismo e com forte sabor local: dos turcos BaBa ZuLa (sábado) e dos colombianos Meridian Brothers (domingo).

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