Política para o interior? Só com regionalização

Durante anos foram encerrados hospitais, centros de saúde, escolas e serviços no interior, lesando profundamente as populações que, isoladas geograficamente, passaram também a ficar isoladas política e socialmente.

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fabio augusto

Não é novidade para ninguém que não existe nenhuma política consequente para o interior em Portugal, nem tampouco vontade política para a levar a cabo. É ingénuo pensar que o movimento pelo interior de que tanto temos ouvido falar seja o impulso necessário para que, de uma vez por todas, se olhe para o país no seu conjunto e não como um aglomerado de regiões que, de formas diferentes, vai lutando pela sobrevivência. Este movimento, por mais curioso que seja, foi lançado em Lisboa e alguns dos seus promotores têm inclusive responsabilidades pela falta de acção ou até pelo agravar das desigualdades económicas, sociais e políticas mais do que evidentes no nosso país.

Como podemos falar de políticas para o interior ao mesmo tempo em que se assiste ao desmantelamento de serviços públicos essenciais para a coesão territorial, como é o caso da Caixa Geral de Depósitos? Como podemos abanar a bandeira da descentralização com uma mão quando, com a outra, assinamos o encerramento de estações dos CTT?

Este debate sobre os graves problemas que assolam o interior do país não pode ser sério enquanto não se quiser levar a cabo uma política de proximidade que vá para além das palavras e que se centre naquilo que é essencial: a melhoria das condições de vida de todos sem excepção. Tal melhoria não vê a sua concretização prática na descentralização de competências para as câmaras municipais que, não estando dotadas de verbas nem de capital humano, não são capazes de fazer aquilo que só a regionalização e a criação das regiões administrativas podem fazer: levar o poder político para junto das pessoas, para que sejam estas as protagonistas das suas próprias vidas.

Durante anos foram encerrados hospitais, centros de saúde, escolas e serviços no interior, lesando profundamente as populações que, isoladas geograficamente, passaram também a ficar isoladas política e socialmente. Vimos à nossa frente o desmantelamento da linha ferroviária e o empobrecimento do serviço de transportes, vimos subsídios a serem pagos para que os agricultores não produzissem e vimos quem beneficiou com isso. Não podemos ignorar que são ainda milhares os que emigram porque não vêem nas suas terras a possibilidade de um futuro e vida dignos.

Não se pode falar em política para o interior sem querermos reerguer o aparelho produtivo nacional e com isso dar nova vida a todo um fumegar de produção que hoje só dá lugar ao silêncio.

Esta política tem responsáveis e são os mesmos que agora andam com o interior na boca como salvadores da desertificação que só neste momento tiveram a oportunidade intervir.

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