Pressão sobre Ortega para por termo à violência na Nicarágua chega de todo o mundo

Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU responsabiliza forças paramilitares fiéis ao Governo por assassínios e tortura. Dezenas de países condenaram actuação das autoridades e pedem fim imediato da violência.

Nicarágua, Daniel Ortega
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Manifestantes com máscaras tradicionais,Manifestantes com máscaras tradicionais Oswaldo Rivas/REUTERS,Oswaldo Rivas/REUTERS
2018 Protestos nicaraguenses, Motim, Nicarágua, Ángel Eduardo Gahona, Daniel Ortega, Jornalista
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Protesto em Manágua Oswaldo Rivas/REUTERS

O Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas pediu nesta terça-feira que o Governo de Nicarágua permita o acesso às prisões aos seus monitores e acusou o executivo de matar, torturar e aprisionar pessoas sem o devido processo. Esta é apenas mais uma voz que se juntou ao coro de críticas e condenações internacionais devido à repressão dos protestos contra o Presidente Daniel Ortega, que tiveram início em Abril, e que já fizeram quase 300 mortos.

“O número de mortos já é totalmente inaceitável. É evidente que há um uso letal da força por entidades ligadas ao Estado que não é aceitável”, afirmou António Guterres, secretário-geral da ONU, durante uma visita à Costa Rica, pedindo ainda o “fim imediato” da violência na Nicarágua.

Já Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, gabinete da ONU que está a lidar directamente com a questão da Nicarágua, garantiu, em conferência de imprensa, que está a ser cometida “uma ampla variedade de violações dos direitos humanos, incluindo assassínios extrajudiciais, tortura, detenções arbitrárias, e negação da liberdade de expressão”.

Tudo começou em Abril, com um protesto contra uma reforma da Segurança Social proposta por Ortega. Logo nessa altura, a repressão das autoridades originou dezenas de mortes. Mas, apesar de o Presidente ter retirado a proposta de reforma, os protestos não só não acabaram como se alastraram a todo o país para exigir a queda do Governo.

Os confrontos entre apoiantes e opositores de Ortega aumentaram de tom, bem como a musculatura da intervenção das autoridades. A contabilidade de mortes não é certa, sendo que existem organizações que colocam a cifra nos 280 e outras que garantem que ultrapassa os 350.

“A grande maioria das violações foram cometidas pelo Governo ou por elementos armados que parecem estar a trabalhar para ele”, explicou Colville à Reuters, admitindo, no entanto, que alguns dos manifestantes anti-Governo têm saído à rua armados.

O comissariado dos Direitos Humanos da ONU exigiu ainda informações sobre dois activistas, Medardo Mairena e Pedro Mena, detidos na sexta-feira no aeroporto da capital, Manágua, sem que as autoridades tivessem até ao momento revelado às famílias o seu paradeiro.

Colville expressou ainda preocupação relativamente a uma lei anti-terrorismo aprovada na segunda-feira que pode facilitar ainda mais as detenções de manifestantes pacíficos.

Nos últimos dias chegaram condenações e apelos à paz um pouco por todo o lado. O Departamento de Estado norte-americano divulgou na segunda-feira um comunicado a condenar e a exigir um ponto final nos ataques “da polícia paramilitar de Daniel Ortega contra estudantes universitários, jornalistas, e clérigos”.

A União Europeia considerou, por sua vez, a violência registada nos últimos meses na Nicarágua “deplorável” e pediu para que “as autoridades assegurem a segurança da população e o respeito pelos direitos fundamentais”.

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Mural do Presidente Daniel Ortega e da vice-presidente, a sua mulher, Rosario Murillo Oswaldo Rivas/REUTERS

Num comunicado conjunto, 12 países da América Latina (Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai) condenaram igualmente a “violação de direitos humanos e de liberdades fundamentais” da população da Nicarágua, pedindo ainda a “celebração de eleições livres, justas e oportunas, num ambiente liberto do medo, intimidação, ameaças ou violência”.

A violência continuou durante o fim-de-semana com pelo menos dez pessoas mortas em confrontos na cidade de Masaya, situada a cerca de 35 km da capital Manágua, e que tem sido um dos epicentros da revolta contra o orteguismo. De acordo com a Associação para os Direitos Humanos da Nicarágua, as mortes ocorreram na sequência de um ataque das forças de segurança contra um protesto anti-Governo, sendo que quatro das vítimas eram membros das autoridades.

As forças governamentais atacaram novamente nesta segunda-feira Masaya, segundo noticia o jornal nicaraguano La Prensa. Não há ainda informação sobre possíveis vítimas de mais esta ofensiva.

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