Conheça as portuguesas que foram pioneiras nas profissões liberais e no activismo

Esta quarta-feira passam cem anos da publicação do decreto que legitima o acesso das mulheres a "várias funções públicas".

Banner, protesto
Fotogaleria
Nelson Garrido/arquivo
Regina Quintanilha, Militar
Fotogaleria
Regina Quintanilha DR
Carolina Beatriz Ângelo, Portugal
Fotogaleria
Carolina Beatriz Ângelo DR
,
Fotogaleria
Maria Amélia Chaves com os colegas de curso em 1937 DR
Adelaide Cabete, Alcáçova
Fotogaleria
Adelaide Cabete DR
Ana de Castro Osório, Quatro novelas ..., As mulheres portuguesas, Mangualde
Fotogaleria
Ana de Castro Osório DR
Cartório Notarial Loures
Fotogaleria
Aurora de Castro Gouveia DR

Várias mulheres destacaram-se na medicina, na engenharia, na advocacia, na escrita, no activismo político e na defesa dos direitos das mulheres durante a primeira metade do século XX, numa sociedade em que imperava a figura masculina do "chefe de família". Esta quarta-feira passam cem anos da publicação do decreto, promulgado por Sidónio Pais, que legitima o acesso das mulheres a "várias funções públicas".

Conheça algumas mulheres que se destacaram na luta pelos seus direitos:

Regina Quintanilha
A primeira mulher a licenciar-se em Direito e a exercer a advocacia ainda antes do decreto de 1918 que consagrou a abertura da profissão às mulheres. Conseguiu uma autorização do Supremo Tribunal de Justiça e estreou-se em 1913, no Tribunal da Boa Hora. Nasceu a 9 de Maio de 1893, em Bragança, no seio de uma família abastada. Aos 17 anos pediu a matrícula na Universidade de Coimbra e terminou o curso em três anos.

Carolina Beatriz Ângelo
Foi a primeira mulher a exercer o direito de voto, alegando reunir todas as condições estabelecidas na lei, em 1911: era portuguesa, viúva, chefe de família, com formação superior. Mas não foi fácil para esta mulher que nasceu na Guarda, que se formou em Medicina e morreu aos 33 anos. Então, o regime não aceitou. Por isso, Beatriz Ângelo levou o caso a tribunal, conseguiu recensear-se e votar nas eleições para a Assembleia Constituinte. A lei foi posteriormente alterada para explicitar que só os homens podiam votar. Deixou um intenso legado na luta pelos direitos das mulheres.

Maria Amélia Chaves
A primeira engenheira, licenciada no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, em 1937. Morreu no ano passado. Ao prestar-lhe homenagem numa publicação, o Técnico afirma que depois de concluir a licenciatura voltou a surpreender "tudo e todos" ao ir para o terreno liderar um grupo de operários. “Quando lutamos e sabemos o que fazemos, somos aceites”, dizia.

Adelaide Cabete
Republicana, médica e professora. Pioneira na reivindicação dos direitos das mulheres, como o voto e um período de descanso (um mês) antes do parto. Natural de Alcáçova, em Elvas. Órfã, de origem humilde, estudou depois de se casar. Concluiu o curso em 1900, com a tese "Protecção às Mulheres Grávidas Pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações". Na sua biografia, consta que foi a primeira mulher a votar a Constituição Portuguesa que instala o Estado Novo, ao qual se opôs.

Ana de Castro Osório
Escreveu em 1905 As Mulheres Portuguesas, que é considerado o primeiro manifesto feminista português. Natural de Mangualde, profetizou que a mulher portuguesa só no trabalho encontraria a sua carta de alforria, não no trabalho esmagador, exercido como castigo, mas “no trabalho que enobrece o espírito, que dá o belo orgulho dos que só contam consigo e nunca foram um peso para ninguém”, conforme recorda a investigadora Irene Pimentel no livro Mulheres Portuguesas, em co-autoria com Helena Pereira de Melo.

Aurora de Castro Gouveia
A primeira notária, não apenas em Portugal, mas na Europa, e a segunda mulher a exercer advocacia no país, segundo a historiadora Irene Pimentel.

Maria José Estanco
A primeira mulher arquitecta. Natural de Loulé começou por frequentar Pintura, em Belas Artes, optando mais tarde pelo curso de Arquitectura, que concluiu em 1942. O Arquivo Distrital de Faro prestou-lhe este ano homenagem por ocasião do Dia Internacional da Mulher, dando conta do seu percurso: “Tentou o ingresso em vários ateliers de arquitectura, porém viu a entrada no mercado de trabalho ser barrada pela sua condição feminista, pelo que se dedicou à decoração de interiores e à criação de móveis". Integrou a direcção do Conselho Nacional para a Paz e o Movimento Democrático das Mulheres.

Manuela Azevedo
A primeira jornalista com carteira profissional (morreu no ano passado com 105 anos). Escreveu romances, poesia e teatro. Viu uma das peças censurada pelo regime de Salazar e enfrentou a censura num artigo que escreveu em 1935 sobre eutanásia.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários