Edição genética de bebés é “moralmente admissível”, diz comité britânico de bioética

Relatório sobre a edição do genoma e reprodução humana acaba de ser divulgado.

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Ilustração da molécula de ADN e da sua manipulação por técnicas que permitem cortar e colar pedaços de sequências genéticas DR

O uso de técnicas de edição genética para alterar o ADN de embriões humanos pode ser “moralmente admissível” desde que a ciência e o seu impacto na sociedade sejam analisados de forma cuidadosa – considerou um painel britânico de ética num relatório acabado de publicar esta terça-feira, intitulado Edição do genoma e reprodução humana: Questões sociais e éticas.

Os peritos do Conselho Nuffield de Bioética dizem que para já a lei actual não deve ser alterada para permitir a edição do genoma humano de forma a corrigir falhas genéticas na descendência, mas a legislação futura que o permita não deve ser posta de lado.

Os membros deste conselho – um organismo independente que analisa questões éticas colocadas por novos desenvolvimentos na biologia e medicina – pedem também aos cientistas e peritos em ética nos Estados Unidos, na China, na Europa e noutros locais para se empenharem o mais depressa possível no debate público sobre as implicações da edição do genoma humano.

As possibilidades levantadas pelas ferramentas da edição genética representam uma “nova abordagem radical às escolhas reprodutivas”, refere o conselho no seu relatório, e podem ter implicações significativas para os indivíduos e a sociedade. “Deve haver iniciativas de apoio ao debate público agora e o estabelecimento de medidas de controlo apropriadas.”

As técnicas de edição genética como a CRISPR/Cas9 permitem alterar deliberadamente uma sequência de ADN específica numa célula viva. Em teoria, podem ser usadas na reprodução medicamente assistida para editar o ADN de um embrião antes de ser transferido para o útero. Actualmente, a lei britânica proíbe-o, mas o painel de peritos Nuffield diz que, com o decorrer do tempo, isso poderá ficar disponível como uma opção para os pais que queiram influenciar as características genéticas dos seus futuros filhos – por exemplo, eliminar uma doença hereditária ou uma predisposição para o aparecimento de cancro mais tarde na vida.

“Ao mesmo tempo que ainda há incerteza quanto ao tipo de coisas que a edição do genoma pode permitir obter, ou quanto à sua disseminação, concluímos que o uso potencial da edição do genoma para influenciar as características das gerações futuras não é, em si mesmo, inaceitável”, afirmou Karen Yeung, professora de direito, de ética e informação na Universidade de Birmingham (Reino Unido), que presidiu ao painel.

O relatório deste conselho acrescenta que, se tal acontecer, é preciso primeiro aplicar várias medidas restritivas para garantir que a edição genética decorre de forma eticamente aceitável.

Propõe-se ainda que, para que a aplicação das técnicas de edição genética à reprodução humana seja eticamente aceitável, ela deve ser guiada por dois princípios globais: ter como objectivo o bem-estar da futura pessoa; e não aumentar as desvantagens, discriminações ou divisões na sociedade.

Numa reacção ao relatório, Fiona Watt, directora executiva do Medical Research Council britânico, aplaudiu a ideia de um debate alargado e considerou crucial que os investigadores “continuem a avaliar a segurança e viabilidade [destas técnicas] antes de se autorizar nas pessoas a transmissão de genes editados entre gerações”.

No entanto, David King, do grupo activista britânico Human Genetics Alert olha para as conclusões do relatório como um sinal de aprovação de “bebés feitos à medida” e considera-as “uma desgraça total”. “A criação de bebés geneticamente modificados tem de ser proibida a nível internacional.”

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