Em defesa da slow web

Uma resolução para o Verão: ler devagar e dizer não ao junk food digital.

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Reuters/UESLEI MARCELINO

As férias costumavam ser uma ocasião anual para abrandar, ficar incontactável e pôr finalmente a leitura em dia. Actualmente, porém, nem no Verão nos livramos de uma avalanche de notificações de notícias, mensagens de amigos ou aquela estranha obrigação de publicarmos uma foto para fazer prova de vida. A internet móvel de banda larga é quase omnipresente e nós desaprendemos a desligar-nos do mundo. Estamos mais conectados, sim, mas estaremos mais felizes e melhor informados?

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As férias costumavam ser uma ocasião anual para abrandar, ficar incontactável e pôr finalmente a leitura em dia. Actualmente, porém, nem no Verão nos livramos de uma avalanche de notificações de notícias, mensagens de amigos ou aquela estranha obrigação de publicarmos uma foto para fazer prova de vida. A internet móvel de banda larga é quase omnipresente e nós desaprendemos a desligar-nos do mundo. Estamos mais conectados, sim, mas estaremos mais felizes e melhor informados?

Lute-se então contra isso, propõe o movimento slow web, inspirado no conceito slow food. Tal como na alimentação, a ideia base é a de uma dieta de informação de qualidade. Menos tweets e stories, mais leituras longas e documentários. Deixar de saltitar de pequeno vídeo em pequeno vídeo sem no final nos recordarmos do que vimos há dois minutos, e concentrarmo-nos uma ou duas horas num conteúdo de valor. E é a revista Wired, fonte inesgotável de histórias longas e bem contadas sobre o mundo tecnológico, que recupera nesta edição de Julho o manifesto que Jack Cheng, um ex-fundador de startups tornado romancista, publicou em 2012

Cheng insurge-se contra a “fast web”, a “web fora de controlo”, a web “oh meu deus há tanta coisa e não consigo ficar a par de tudo”, “o sal, o açúcar e a gordura” do “clica-me, gosta-me, tweeta-me, partilha-me”. Em alternativa, propõe uma slow web em que utilizador vê o que quer e não aquilo que lhe chega ao ecrã, quando quer ver e não quando outros o ditam. 

Cheng admite que é uma ideia demasiado simples e, anos depois, disse mesmo que era impotente perante o avanço da fast web. Mas na Wired, a editora Arielle Pardes defende que a ideia continua a ser praticável: sem aplicações de redes sociais nem alertas de notícias, propõe o consumo de artigos e vídeos excepcionalmente longos, “exercícios de paciência” como um vídeo de sete horas de uma viagem de comboio entre Oslo e Bergen

Gostos não se discutem, e ninguém obriga o leitor a ver vídeos de comboios. Mas fica a sugestão para as férias: escolha um bom conteúdo por dia, feche as outras janelas e aplicações e consuma-o devagar, sem distracções. O pior que lhe pode acontecer é ter aprendido algo novo.