Hells Angels: Advogado de um dos detidos no Algarve diz que investigação "está pouco sustentada"

"A Polícia Judiciária tinha o local sob vigilância e ninguém interveio", disse Miguel Fonseca em declarações no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.

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Chegada dos detidos ao Campus da Justiça na passada quinta-feira LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O advogado de um dos 58 detidos do grupo de motociclistas dos Hells Angels disse neste domingo que a investigação "está pouco sustentada" e que a Polícia Judiciária (PJ) poderia ter evitado o ataque de Março no Prior Velho.

"A Polícia Judiciária tinha o local sob vigilância, isso está documentado no processo, e não fez rigorosamente nada. Não estava lá naquele dia de Março", disse Miguel Fonseca, advogado de um dos detidos no Algarve e que domingo de manhã prestou declarações no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.

O advogado referia-se à rixa, no passado mês de Março, envolvendo elementos do Hells Angels e de outro grupo motard (Red & Gold) dentro de um restaurante no Prior Velho, no concelho de Loures, que fez seis feridos. Miguel Fonseca adiantou que a investigação está "pouco sustentada", considerando que a "PJ tinha o local sob vigilância e ninguém interveio".

"Isto é um processo de 2017. Os acontecimentos que estamos aqui a falar são de um acto específico e isolado que ocorreu em 2018. O que andaram a fazer desde 2017, nenhuma destas pessoas está aqui indiciada por nenhum facto anterior ao dia do assalto ao restaurante", disse.

Segundo o advogado, o interrogatório durou cerca de 20 minutos e o seu cliente prestou declarações em tribunal para esclarecer que houve um lapso e que as cinco fotografias apresentadas no processo não o indiciam.

Miguel Fonseca disse também que esta operação teve como "estratégia clara" impedir que este grupo de motociclistas fosse à concentração de Faro, que se realiza a partir de quinta-feira. Este advogado disse ainda que o seu cliente, que apenas foi confrontado com fotografias, "não faz parte de qualquer gangue motard".

Ao longo da manhã de hoje foram ouvidos no Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa três arguidos dos 58 elementos do grupo de motociclistas Hells Angels, realizando-se o último interrogatório à tarde. Os detidos estão indiciados por associação criminosa, tentativa de homicídio, roubo, ofensa à integridade física e tráfico de droga. Um outro elemento encontra-se detido na Alemanha.

O advogado de outro dos arguidos detidos no Algarve e ouvido em tribunal este domingo de manhã defendeu, em declarações aos jornalistas, que o processo deve ser mais bem investigado.

"Este processo tem que ser melhor investigado porque tem que se deslindar o trigo do joio. O mais importante é saber quem é quem. Não é por as pessoas terem tatuagens que podem pertencer a este ou àquele grupo", disse Tito Manuel Januário. O advogado disse que o seu cliente explicou ao tribunal a quem pertencia o material encontrado durante as buscas à sua residência.

Medidas no início da semana

Também Tito Manuel Januário considera que esta operação da PJ foi acelerada tendo em conta a concentração de Faro: "Eu penso que terá sido com essa finalidade, uma vez que por aquilo que se ouviu havia possibilidade de existiram confrontos ou rixas entre instituições", disse.

Fonte judicial avançou aos jornalistas que, na segunda-feira, vai ser apresentada a promoção das medidas de coacção, por parte do Ministério Público, e as respostas por parte dos advogados, numa sessão que não contará com a presença dos 58 arguidos.
Uma outra fonte ligada ao processo disse à Lusa que a juíza Maria Antónia Andrade deverá determinar as medidas de coacção na terça-feira.

A investigação do caso dos Hells Angels foi elaborada pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal e pela Unidade Nacional Contra Terrorismo da Polícia Judiciária e os mandados de busca e de detenção foram executados na quarta-feira.

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