O ministro da Defesa ainda não acabou a recruta

Parece que a hierarquia do Exército e do Ministério da Defesa ou andam a ser iludidas ou andam a iludir-nos.

Azeredo Lopes vai entrar para a história do Ministério da Defesa Nacional. Começou por dar a entender que o assalto a Tancos não tinha nada que ver com a sua função de ministro, disse que aquela era a primeira vez que armamento furtado era recuperado — um facto histórico que não deixou de assinalar — e acabou posto em causa pelas últimas novidades sobre este patético caso: afinal, nem todo o armamento foi recuperado, como alega o Ministério Público numa exposição referida pelo Tribunal de Relação de Lisboa, citada este sábado pelo Expresso.

Vejamos: desconhecidos abriram um buraco na rede de protecção dos paióis, aproveitando um hiato de 20 horas entre rondas, e levaram o que quiseram, que o Exército considerou obsoleto. Uma generosa chamada telefónica permitiu recuperar o material, com uma caixa a mais, que não estava inventariada. A Polícia Judiciária Militar voltou da Chamusca com o material desaparecido, terá alertado a Polícia Judiciária sete horas depois e só terá permitido a entrada desta nas suas instalações após cinco horas de espera. O que dirá de tudo isto, quando for certamente confrontado com tal na comissão parlamentar de Defesa, na próxima terça, o ministro que enalteceu como “extremamente positivo o facto de o conjunto de material de guerra que não tinha sido recuperado ser recuperado”?

O historial de Tancos, uma autêntica ópera bufa, e a revelação de que nem todo o armamento foi recuperado permitem todo o tipo de dúvidas. O Exército não parece ser capaz de garantir a total segurança das suas instalações; não parece conhecer o material de que dispõe; não parece ter uma polícia judiciária capaz de investigar o assalto a Tancos e interessada em colaborar com as autoridades civis (PJ e Ministério Público, neste caso), e não teve qualquer rebate de consciência por escolher para o curso de promoção a oficial general dois dos cinco coronéis exonerados temporariamente na sequência do assalto.

Pior: parece que a hierarquia do Exército e do Ministério da Defesa ou andam a ser iludidas ou andam a iludir-nos. Azeredo Lopes sempre foi um erro de casting neste Governo. Três anos depois, o ministro da Defesa ainda não acabou a recruta. A segunda temporada da novela de Tancos promete.

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