Querer da Croácia não chegou para cinismo do bicampeão

França festeja de novo um título mundial depois da conquista de Paris, em 1998. Croatas voltaram a ser uma força da natureza, mas desta vez não chegou.

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Pogba já com o troféu de campeão do mundo na mão Reuters/DYLAN MARTINEZ

Didier Deschamps ergueu o troféu há 20 anos, em Paris, como jogador e neste domingo, em Moscovo, como treinador. O actual seleccionador gaulês esteve nos dois momentos altos da França, que se sagrou bicampeã mundial de futebol e festejou sob um súbito dilúvio. À Croácia não chegou o querer. Mas chegou a parecer que sim.

O “pequeno” Uruguai continuará a ser o David entre os Golias campeões mundiais. Os tempos eram outros, mas quando se tornou na primeira selecção a receber o troféu no torneio que organizou em 1930 tinha apenas 1,7 milhões de habitantes. Ao repetir a proeza duas décadas depois, em maior escala, para trauma do enorme Maracanã, eram 2,2 milhões os uruguaios.

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A Croácia tem hoje quase o dobro desta população e foi já uma proeza alcançar a final na conjuntura moderna do pontapé na bola. Tirando as tais duas surpresas uruguais apenas sete selecções festejaram o título em 21 edições.

Mas, alcançado o patamar da final, a Croácia podia sonhar. Como fez a selecção de Fernando Santos há dois anos, no Stade de France, frente ao mesmo adversário. Só que, desta vez, os franceses foram discretos e respeitaram este David. Pior, convenceram-no que podia ser o “Portugal” do Mundial.

Ao contrário da final de 2016 no Europeu, cederam sem problemas a posse da bola aos croatas. Não foram soberbos a ostentar as individualidades, nem perderam o orgulho quando tiveram de defender com onze homens atrás da linha da bola e com o adversário instalado com dez jogadores no seu meio-campo.

Como um predador que vai observando a vítima quase imóvel antes de a atacar e matar, quando a França desferiu os golpes estes foram tão fatais como inesperados, contando com a contribuição inadvertida do próprio oponente. Até lá, foram permissivos.

A entrada afoita da Croácia não apanhou os "tricolores" exactamente desprevenidos, face ao carácter e personalidade que os balcânicos assumiram na Rússia. Pressionaram alto, circularam muito a bola (terminaram os primeiros 45’ com uma posse de 60%), mas não abriram espaços para entrar na defesa de betão francesa ou sequer assustar Lloris entre os postes.

Aliás, foi impressionante ver a disponibilidade física que os croatas apresentaram no primeiro tempo. Especialmente depois dos três prolongamentos e duas decisões por penáltis que tiveram de enfrentar. Na prática tinham mais um jogo nas pernas do que os franceses, menos opções no banco, mas não parecia.

Dominavam a partida até que, ao minuto 18’, sentiram o primeiro abalo. Inesperado. Ivan Rakitic travou em falta uma rara iniciativa atacante conduzida por Griezmann. O avançado do Atlético de Madrid cobrou o livre tenso e quando Mandzukic tentou desviar a bola de cabeça surpreendeu o seu próprio guarda-redes e rubricou o primeiro autogolo da história das finais do Mundial.

A Croácia abanou, mas já se habituara a reagir a contrariedades na Rússia. Se Griezmann fora o protagonista do primeiro golo, Perisic iria assumir o palco aos 28’. Sofreu também uma falta para livre; Modric cobrou, num lance estudado que não terá corrido tão bem como no laboratório, mas que acabou nos pés do extremo do Inter de Milão, que empatou o encontro.

Naquele que estava a ser o melhor pano croata acabou por cair uma grande nódoa. Na sequência de um canto, a bola foi desviada pelo braço de Perisic e o árbitro, depois de uma longa consulta ao VAR (vídeoárbitro) assinalou penálti. Griezmann fez o resto (38’) debaixo dos trovões que se começaram a fazer ouvir nos céus de Moscovo.

Um prenúncio de tempestade que veio a atingir em cheio a Croácia na segunda metade, depois de ter chegado ao intervalo a liderar todas as estatísticas, com sete remates contra um do adversário, que mesmo assim contabilizava o dobro em golos.

Os balcânicos arriscaram mais no ataque e começaram a deixar muito espaço para o velocista Mbappé. Aos 59’, o melhor jovem jogador do torneio recebeu um grande lançamento de Pogba, na direita, encontrou Griezmann na área e este deixou a bola para o mesmo Pogba finalizar, à segunda.

Com este terceiro golpe, aos 65’, a Croácia caiu mesmo e ficou estendida no chão com o quarto golo do próprio Mbappé instantes depois. De nada valeu o brinde de Lloris, que ao tentar fintar Mandzukic perdeu a bola para o ponta-de-lança que reduziu a desvantagem. Já não havia era físico croata para mais.

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