Stanley Kubrick deixou-nos um Segredo Ardente

Guião perdido do realizador norte-americano está suficientemente desenvolvido para ser transformado num filme.

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Um guião perdido de Stanley Kubrick, adaptando um romance de Stefan Zweig, foi encontrado por um professor britânico, Nathan Abrams, que prepara um livro sobre o último filme feito pelo realizador norte-americano. Segundo os relatos do jornal britânico The  Guardian, que noticiou a descoberta este domingo, há no documento de 100 páginas material suficiente para avançar para a produção de um filme escrito por um dos mais importantes cineastas norte-americanos da segunda metade do século XX, autor de filmes como 2001, Odisseia no Espaço (1968) ou Laranja Mecânica (1971), e desaparecido em 1999.

Intitulado Burning  Secret (Segredo Ardente), tal como a obra de Zweig publicada em 1911, o guião foi encontrado por Nathan Abrams, professor da Universidade de Bangor (País de Gales) e especialista em cinema, que prepara uma obra sobre De Olhos Bem Fechados, filme estreado no ano da morte de Kubrick, com Tom Cruise e Nicole Kidman nos papéis principais. “Nem queria acreditar. É tão excitante. Pensou-se que estava perdido”, disse o professor de cinema ao jornal inglês. Com uma carreira de 46 anos, Stanley Kubrick realizou apenas 13 longas-metragens, sendo conhecido por fazer pesquisas enciclopédicas e por ter deixado vários projectos inacabados, um deles sobre a vida de Napoleão.

Kubrick escreveu o guião agora encontrado em 1956, juntamente com a escritora Calder Willingham, uma colaboração que continuaria no ano seguinte num dos filmes de guerra do realizador, Horizontes de Glória, que passou à tela com Kirk Douglas.

O romance do escritor austríaco (1881-1942) conta a história de um jovem aristocrata de férias numa estância de montanha, já em fim de época, que para afastar o aborrecimento tenta seduzir uma mulher casada. Usa o seu filho, um rapaz de 12 anos, para chegar à mãe, estabelecendo-se um triângulo de ciúmes através dos olhos da criança. O romance foi transformado num filme em 1988, por Andrew Birkin, um antigo assistente de Kubrick, com Faye Dunaway, Klaus Maria Brandauer e David Eberts como actores.

“Os fãs de Kubrick sabiam que ele queria fazer o filme, mas ninguém pensou que estivesse completo. Agora temos uma cópia que prova que ele fez um guião completo.” Segundo o Guardian, o guião tem o carimbo da MGM e na interpretação de Nathan Abrams o conteúdo, com uma criança a facilitar a relação entre a mãe e o amante, pode ter sido considerado demasiado ousado para a época. O especialista galês vê este guião com uma espécie de espelho invertido de Lolita, a adaptação que Kubrick fez do romance de Vladimir Nabokov em 1962, uma vez que aqui o sedutor casa com a mãe para chegar à filha. Em 1933, Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, proibiu uma adaptação cinematográfica desta história (Stefan Zweig era de origem judia, tal como a protagonista do romance, e o próprio Kubrick).

Já depois da morte do autor de Barry Lyndon, Steven Spielberg pegou num projecto nunca realizado do seu amigo e passou-o ao ecrã, tendo estreado A.I. - Inteligência Artificial em 2001. Spielberg também já anunciou, há cinco anos, que quer retomar o projecto de Napoleão, desta vez para a televisão. Resta saber quem é que vai avançar para Burning Secret.

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